segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Santidade… eis o caminho


O homem de hoje, mais do que nunca, está sendo marcado pelo erro da idolatria. Tomamos coisas, pessoas ou idéias e as transformamos em deuses. Elas estão acima de tudo e de todos e, para nós, são princípios e fim de todas as nossas ações.

Essa absolutização e divinização das coisas nos distancia da realidade a qual vivemos e do compromisso que devemos ter por ela. Quando nos pomos debaixo de algo que é a nós absoluto, deixamos de agir e ficamos imóveis diante de determinada realidade, isso só deve acontecer com Deus, mas infelizmente ocorre com pessoas, idéias ou até objetos que tomamos como divino. O dinheiro, os bens materiais, alguns homens e até certas leis ou idéias são exemplos desses “deuses”.

Muitos de nós olhamos para os santos com essa mesma perspectiva. Contemplamos sua história de vida, seu testemunho e suas obras e esquecemos a prática que deve surgir a partir de tal admiração. Se a pessoa ou a idéia por quem optamos não nos torna capazes de construir relações fraternas e justas “vã é a nossa fé”.

Ao comemorarmos o Dia de todos os Santos, devemos lembrar não de pessoas distantes de nossa realidade que conseguiram construir uma vida beata, feliz aos olhos de Deus. Vejamos nesses homens o testemunho vivo de uma existência edificada sob a pessoa de Cristo, tendo-O como princípio e fim de toda a sua busca pela felicidade.

É nesse sentido que João, no livro do Apocalipse, nos apresenta os santos como aqueles que estão próximos de Deus e, portanto, da Suprema Alegria. Ao indagar sobre quem seriam tais homens, um ancião responde: “Esses são os que vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram as suas roupas no sangre do Cordeiro” (Ap 7, 14).

A conquista de uma vida feliz, não se constitui por meio de uma lógica humana de benefícios e prazeres, mas por meio de sacrifícios e renúncias, na aceitação da vida em sua dimensão contingente, isto é, de variação contínua entre angústia e alegria, prazer e dor, etc.

A pureza de nossas “vestes” (Ap 7, 13), isto é, de nosso testemunho de vida só se torna real a partir do momento que tomamos alguém como exemplo, caminho a ser seguido. Os santos, nesse sentido, não são exemplos isolados a serem “adorados”, mas aquelas pessoas que tomaram o Cristo como meta de suas ações, associando-se ao Seu modo de ser e agir para construir uma vida de santidade, uma existência em plenitude.

Com isso, todo aquele que se associa ao Deus-Homem também se “diviniza-se”, santifica a sua vida, encontrando, assim, um sentido para a sua existência, como bem esclarece São João em sua primeira Carta: “Todo aquele que espera nele purifica-se a si mesmo, como também ele é puro” (3, 3).

Cristo, ao propor as bem-aventuranças, estava a caracterizar-se a si mesmo. Todos os ensinamentos de Jesus foram assumidos por Ele mesmo como prova de sua possibilidade, na promessa de uma vida “divina” para todos os que os tomassem para si, comprovado por Sua ressurreição.

Que saibamos ver tais ensinamentos, não apenas como um texto bonito para ser lido ou contemplado, mas como um norte, algo que dá uma direção para a nossa vida prática. Possamos compreender que a lógica do mundo não é a mesma da de quem quer viver uma vida fundada no chão de nossa realidade, no contato fraterno e justo com o outro e com os olhos fixos em Jesus.

A santidade, deste modo, não é uma opção, mas uma obrigação de todo aquele que quer estar comprometido com a construção do Reino de Deus, de uma sociedade que tem a vida como princípio fundamental e Cristo como princípio e fim de toda opção. Somente por meio dessa preferência de vida, é que se pode iniciar a construção de uma sociedade mais elevada, divinizada, tornando concreto o Reino dos Céus.
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[Artigo Publicado no Jornal "A Folha", da Diocese de Caicó, ANO XXI, Nº 179, 31/10/2009]

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