domingo, 4 de outubro de 2009

Fidelidade do Sacerdote

Em uma cultura de pensamento tão fragmentado e machista como a nossa, crescemos com a idéia de que o padre é aquele que “não casa”. Mesmo sendo de fato, desenvolvemos outro pensamento mais complicado de se conceber: o padre não vai assumir compromissos, sendo livre para o seu ministério.

A viver o Ano Sacerdotal, o tema nos propõe um grande ensinamento: “Fidelidade do Sacerdote”. O padre, contrário do que muitos possam pensar, é chamado a assumir um compromisso tão exigente quanto o matrimônio, só que em uma modalidade diferenciada.

A pessoa, ao assumir a opção do sacerdócio ministerial, não deve esquecer as dimensões que não essenciais para todo indivíduo. Ser homem, pai e fiel em sua comunidade

Ser homem, no sentido de que, configurado ao Cristo, o padre será responsável pela proteção de uma comunidade. Deve sentir-se, por isso, comprometido pela pessoa humana, ser responsável pelo próprio homem a partir da virtude da compaixão.

A assumir a pessoa do Cristo Pastor, o sacerdote ministerial não pode perder a sua dimensão paternal. Mesmo não gerando filhos biológicos, o padre tem a responsabilidade de assumir um rebanho muito maior e mais exigente do que uma família constituída pelo matrimônio, que é a comunidade paroquial, diocesana ou do mundo inteiro.

O padre não é livre para assumir um ministério, ele apenas assume outro compromisso. Esse também requer um vínculo essencial para a sua manutenção, que é a fidelidade. Assim como qualquer outro compromisso que o homem venha a assumir, ele é convocado a ser fiel a sua vocação, pois essa, como seu próprio nome já o diz, é um chamado de Deus, o que ele quer para nós.

Tais características não devem, como já dito, ser assumidas apenas pelo padre, mas por todos nós, que recebemos um sacerdócio através do nosso batismo e somos chamados a entregar nossa vida como contínuo sacrifício de louvor a Deus.

Essa busca pela fidelidade a um compromisso, entretanto, acarreta limitações emocionais, afetivas ou materiais que, em qualquer que seja o compromisso, requer paciência e perseverança por parte daquele que quer crescer na aproximação de Deus em busca de sua felicidade.

Essa espera paciente pela resposta de nossas dificuldades requer um despojamento total de si, sabendo deixar de lado tudo o que possa ser motivo de pecado, sabendo construir, paulatinamente, o nosso coração, aproximando-o ao do Cristo, Cabeça e Pastor de Sua Igreja.

É nesse sentido que a ordenação, assim como o matrimônio, não fará milagres para a pessoa que faz tal opção. Tais sacramentos são sinais de uma construção que deve ser contínua. O sacerdócio, com isso, torna-se como um contínuo “namoro” daquele que faz a opção pelo pastoreio em uma comunidade, aproximando-se continuamente, mas com suas falhas, de um ideal de pastor que se encerra em Jesus.

O compromisso, qualquer que seja ele, requer, portanto, toda uma entrega total de si para o bem do outro, para a melhor construção de sua missão específica. Por isso que é exigido que os padres façam somente uma opção: pela imitação do Cristo no compromisso com uma comunidade.

O sacerdote ministerial é chamado a ser fiel a esse ideal. Para isso, faz-se necessária a fidelidade à pessoa humana, ao compromisso com o próprio homem, sentido-se responsável por ele. A imitação do Cristo no chamado universal à santidade desenvolve-se, portanto em chamados específicos.

O homem é chamado a se despojar de suas vontades e se entregar ao outro como sinal de um compromisso que só se constrói de forma encarnada, isto é, concreta e em prol do homem. Somente assim é que se pode construir a presença de um Deus que se faz sacramento para elevar os homens para Si.

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[Artigo Publicado no Jornal "A Folha", da Diocese de Caicó, ANO XXI, Nº 174, 26/09/2009]



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