sábado, 9 de maio de 2009

Mea Culpa

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Diante de situações de crise, o homem é sempre levado à dar uma resposta a esses conflitos na busca de respostas que possam solucioná-los. O problema é iniciado quando o próprio homem ausenta-se ou se distancia de seu contexto social para a emissão de julgamentos. Projetar a responsabilidade de uma situação-problema para outros é sempre uma marca humana que precisa ser repensada.


A crise financeira mundial, mais do que um problema econômico, mostra somente a ponta de um iceberg, de uma decadência que afeta também a dimensão política, educacional, sanitária, ambiental e moral. Esse declínio social conjunto é constituído porque a própria comunidade global está interligada.


Entretanto, somos levados à afirmar que toda a causa dessa crise global é fruto de relações de injustiça entre os governantes e o capitalismo. É esquecido o fato de que a sociedade democrática possibilita uma representação, ainda que falha, de nossos interesses na organização social. Portanto, essa política vigente também é fruto da qualidade de nosso voto e de nossa participação político-social.


Inseridos em uma comunidade “conectada”, somos chamados à um sentimento de corresponsabilidade pelo outro. Dentro do imperativo não só cristão, mas, acima de tudo, humano, de corrigir os que erram, não agir contra uma realidade é ser conivente com ela.

A própria omissão, nesta ação de responsabilidade pelo outro e pela sociedade, já seria uma atitude. Quando não agimos contra uma determinada realidade é porque nos conformamos com ela. A negligência diante de um acontecimento demonstra a descrença na esperança de avanço social, contrário à esperança cristã de renascer da morte para a vida após o sofrimento da cruz.

A imagem evangélica da videira (Cf. Jo 15, 1-7) apresenta a necessária relação entre todos os indivíduos tendo Jesus Cristo como centro e eixo norteador dessa comunhão. Semelhante à Igreja nascente (Cf. At 9, 31), somos chamados a nos mantermos em união com nossa comunidade, próximos à Deus, através da pessoa de Cristo e integrados pela providência do Espírito Santo, seiva que perpassa toda a videira.


É Ele quem nos mantém unidos no sentimento de compaixão e corresponsabilidade pelo outro, no comprometimento político e social. Nessa “Eucaristia comunitária”, o duplo mandamento do Senhor, do amor à Deus e ao próximo(Cf. 1 Jo 3, 23), é unificado. Se estamos unidos ao Cristo, tronco da videira, e aos irmãos, nossa ligação com Ele dará frutos por meio de uma ação caritativa, tornando concreta a nossa fé.


Com um sentimento de humildade, devemos nos transformar em cidadãos inseridos e integrados em uma realidade sociopolítica e, principalmente, responsáveis por ela. Aprendamos a fazer o mea culpa no sentimento de compaixão e responsabilidade pelos atos e omissões nossos e dos outros.


Que, na comunhão com Jesus, saibamos nos aproximar de nossos irmãos, sentindo-se até mesmo culpados pelos seus delitos e pelos conflitos que ocorrem ao nosso redor. Deixando-se sempre modelar pelo Supremo Agricultor, façamo-nos partes integrantes e essenciais dessa grande videira que é a comunidade.


[Artigo Publicado no Jornal "A Folha", da Diocese de Caicó, ANO XXI, Nº 155, 09/05/2009]

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