quarta-feira, 2 de março de 2011

Viver a vida

Somos seres de domínio. Queremos ter a certeza do que somos e do que temos. Ficamos inseguros diante de um futuro incerto. Pessoas obscuras também nos causam temor e aversão. Achamos suspeita toda gratuidade que venha até nós. Queremos ter sempre algo nas mãos para pagar ou dar em troca.

Esse tipo de postura cria em nós um materialismo socialmente prejudicial. O homem passa a quantificar o mundo e a vida. Todas as coisas, aos seus olhos, passa a ter um preço. Porém, mesmo sem perceber, o preço maior que ele aplica nos fatos, objetos ou pessoas é a degradação da própria vida, seja a sua, na relação com os outros ou em sua interação irresponsável com os bens naturais.

Jesus, há dois mil anos atrás, nos ensinou não uma regra religiosa, mas uma proteção para a nossa qualidade de vida: “Não fiquem preocupados com a vida, com o que comer; nem com o corpo, com o que vestir” (Mt 6,25). Toda a nossa insegurança parte do temor de sair prejudicado em nossas relações vitais.

Jesus Cristo pede que não tenhamos medo. Ele que nos criou, deu a nós as condições necessárias para a sobrevivência, também nos dá a inteligência para superarmos os obstáculos que venhamos a enfrentar. Porém, ele nos adverte: “não se preocupem com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã terá suas preocupações” (Mt 6, 34).

Preocupar-se é se ater com algo que está no futuro, portanto, que ainda não chegou. Se temos tal postura corremos dois riscos: ou esquecemos de viver o presente, perdendo as oportunidades de crescimento que ele nos oferece, ou somamos – o que é pior – as preocupações de hoje com as que virão. Continua o Senhor: “Basta a cada dia a própria dificuldade” (Mt 6, 34).

Se eu tenho quinhentos tijolos para transferir em uma distância de cem metros e sei que não vai dar para transportar tudo em um carrinho de mão, então logicamente devo transportá-lo em partes. E se nem o carrinho de mão eu tenho e sou obrigado a fazer tal atividade, devo, conseqüentemente, levar dois tijolos de cada vez. Há um provérbio chinês que afirma que “uma jornada de duzentos quilômetros começa com um simples passo”.

É preciso aprender a viver a singularidade de nossos dias. É preciso experimentar a individualidade de cada homem e sentir-se feliz com isso. É preciso compreender que as maiores riquezas e fontes de alegria nos são dadas gratuitamente. É preciso enfrentar a grande construção de nossa existência: tijolo por tijolo.

Aprendamos com Maria a viver a gratuidade da existência. O risco e a responsabilidade que ela assumiu ao dizer sim à proposta do anjo não fizeram com que ela exigisse nada em troca. Ela soube dizer um simples e destemido: “faça-se”.

Que nós saibamos a também dizer um sim à nossa vida, aos prazeres e aos obstáculos que ela nos apresenta. Não podemos sonhar com um grande jardim em nosso quintal se não começamos a pôs as mãos na terra e plantamos pequenas sementes. Se quisermos mesmo chegar no céu e tocar nas nuvens, comecemos juntando todos os entulhos, pedras e areia que estão ao nosso redor para que, fazendo uma montanha, possamos subir em busca de nosso sonho: a felicidade do alto.

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