segunda-feira, 29 de junho de 2009

Somos sementes



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A sociedade moderna, marcada pelo ideal de eficiência e rapidez na produção de bens materiais ou nas relações entre os seus indivíduos, cria no homem uma marca que lhe é prejudicial: o imediatismo. Nessa velocidade e eficácia, principalmente nas relações sociais, parece ser esquecido que as pessoas que delas participam são humanas, e, como tal, possuem uma formação gradativa, contínua e, principalmente, paulatina, isto é, sua transformação não será dada de um dia para o outro.


O filósofo alemão Karl Marx (1818 – 1883), com a colaboração de seu colega Friedrich Engels (1820 – 1895), escreveu em 1847 o Manifesto do partido comunista. Nela, Marx faz uma crítica ao sistema capitalista e propõe o socialismo como modelo de governo. Para ele, no socialismo não haveria concentração de bens, todos viveriam de modo igualitário, seria extinta a concentração de riquezas, logo, não existiria necessidades materiais entre os homens.


Ao ouvir isso, parece que estamos diante da proposta de Cristo realizada pelos primeiros cristãos. O erro do marxismo não está em propor uma sociedade justa e fraterna, mas no modo como chegar a ela. Marx afirmava que para haver uma transformação social era preciso uma revolução. O povo tomaria o poder usando, se preciso fosse, a violência. Aqui é afastada a proposta de Cristo.


Muitas vezes, somos também tomados por esse tipo de idéia quando queremos ser agentes revolucionários de uma transformação social imediata. Queremos abraçar e mudar o mundo com nossas próprias mãos e esquecemos que somos somente parte de um organismo maior do que possamos imaginar.


Ao mostrar a construção do Reino de Deus associando-o à imagem da semente de mostarda – uma das menores – que é plantada e aos poucos vai crescendo, somos chamados à atenção de que a edificação daquele não será de forma imediata nem unicamente dependente de nós. É somente sob o Espírito de Deus, que possui uma pedagogia e o um tempo próprio, que o Reino se tornará pleno e não com nossas falhas e limitadas ações. O homem é sim, agente das ações sociais, mas é Deus quem transforma e direciona todas essas para o seu Plano Divino de construção de um mundo perfeito “sem que ele [o homem] saiba como” (Mc 4, 27), sempre na ocasião oportuna.


É nesse sentido que não cabe à nós “conhecer os tempos ou os momentos” (At. 1, 7) dos planos de Deus, basta-nos seguir as Suas propostas. Devemos caminhar, nas palavras de Paulo, “pela fé e não pela visão” (1 Cor. 5, 7). Mesmo sem compreender muitas coisas, mas caminhando sempre sob os mandamentos divinos, temos a certeza de que ele guia nossos passos e nossas ações para a edificação da cidade perfeita. Nossos sentidos, pelo contrário, são falhos e limitados para se dizer fonte de verdade ou de boa ação.


Por outro lado, mesmo vivendo neste mundo e sabendo que “estamos fora de nossa mansão, longe do Senhor” (1 Cor. 5, 6), não devemos ficar de braços cruzados, contemplando o céu, esperando a vinda de Jesus, pois, na plenitude dos tempos seremos julgados pelo que fizemos de bem ou de mal (Cf. 1Cor. 5, 10) nesta terra, tendo Cristo como Supremo Juiz, ele que também é modelo de nossas ações.

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[Artigo Publicado no Jornal "A Folha", da Diocese de Caicó, ANO XXI, Nº 160, 13/06/2009]

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