quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Um novo reinado

O que é um rei? Segundo o dicionário Aurélio é um “soberano que rege um estado monárquico”. E o que é reger? É o ato de “governar, administrar”.
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Celebrar a Festa de Cristo Rei do Universo é compreender a vitória daquele que soube, como ninguém, abraçar de forma integral a humanidade que permeava o mundo em que vivia. Por que rei? Por ele soube ver no homem a possibilidade de plenitude, de perfeição, e soube construí-la.
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Qual o trono desse novo rei? A cruz. É no alto da cruz que Cristo confirma a plenitude da humanidade, regendo-a. O homem só pode afirmar-se como plenamente humano – portanto, divino – quando ele consegue aceitar sua condição de material, perecível, criatura que necessita de uma força maior, que o transcende.
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Ele precisa aceitar aquilo que de fato é. Tudo que extrapola essa realidade vai de encontro à Vontade Divina, criando-se, logo, um distanciamento de Deus, que dói, e nos empurra para baixo: eis aí o inferno.
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“Salve-se a si mesmo...” (Lc 23, 35), “Você pode não sofrer...”, “Há caminhos menos dolorosos...”, “Você pode reinar sobre nossa terra...”
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Cristo mostrou, entretanto, que era necessário ultrapassar a lógica de uma dominação meramente terrena. O homem precisava ser senhor de sua própria realidade, saber olhá-la de forma integral. Prazeres individuais, caminhos fáceis e dominação temporária são coisas perecíveis. O homem é chamado a ir além, estar acima de tudo isso.
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“Salva-te a ti mesmo!” (Lc 23, 37), “Se dominas a situação, podes sair disso...”, “Tens o poder de descer da cruz...”.
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Por que poderia dizer um “sim” ou um “não” ao sofrimento, Jesus soube ser livre. Sua dor foi abraçada sem nenhuma coação. Ele quis mostrar ao homem que o sentido da vida não estava em não sofrer, mas em saber que essa realidade é uma condição natural da vida.
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Fugir dela é estar preso em um desejo desenfreado por um bem-estar que, mais cedo ou mais tarde, sempre nos frustra. Ele nos decepciona porque aparece e desaparece constantemente e não temos controle sobre ele. Andar livre é saber que não sou dependente de um prazer para viver, tampouco tenho que fugir de uma dor.
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“Salva-te a ti mesmo e a nós” (Lc 23, 39), “Eu também preciso levar vantagem nessa situação...”, “Preciso de um Deus que atenda às minhas necessidades...”, “À minha imagem e semelhança...”.
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Gostamos de ver o Cristo ressuscitado, vitorioso sobre a morte, mas temos muita dificuldade em vê-lo na cruz, sofrendo ou morto. Por quê? Esperamos os benefícios que ele nos oferece pelo seu sacrifício, mas esquecemos da completude de sua mensagem: para entrar na glória é preciso passar pela cruz, ou seja, construí-la no esforço.
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Àquele que compreendeu o mistério do Cristo crucificado, foi dada a promessa: “ainda hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23, 43). Reconhecer a mensagem de um Deus que se encarna e mostra ao homem o caminho a ser seguido é aproximar-se do mistério da ressurreição.
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O indivíduo que foi suspenso numa cruz estava acima de muitas coisas. Mais do que isso, sabia que estava acima de tudo, de qualquer dor, humilhação ou injustiça. Ele não se deixava afetar por nada disso, pois era livre. De fato ele sabia governar aquela situação, administrar aqueles fatos de corrupção, fraqueza e negação humana. Por quê? Ele era o Rei da Humanidade, do cosmos que nos permeia, ou seja, era Rei do Universo.

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