domingo, 26 de julho de 2009

Cristo: o mestre perfeito


Quando o homem por suas capacidades físicas e intelectuais acha-se tão suficiente ao ponto de querer negar uma realidade perfeita que lhe esteja superior, ele retoma e atualiza a atitude de nossos primeiros pais: o pecado original. A negação de uma realidade mais ampla e complexa, que nossos sentidos ainda não podem tocar de forma plena é a negação do próprio Absoluto, Deus, Aquele que consegue “ver tudo”.

A sociedade, a partir do período moderno, relativiza o valor de Deus e de uma ética religiosa colocando sobre eles a técnica. O homem passa a querer abraçar toda a realidade que o cerca pela aplicação de métodos que tem a pretensão de compreender a realidade completamente, dividindo e verificando todas as coisas. O problema é iniciado quando essa técnica torna-se absoluta. O homem passa a utilizá-la de forma tão mecânica e irrefletida que a torna soberana. A técnica torna-se senhora de seus próprios criadores.

Martin Heidegger (1889-1976) (leia-se Martin Raideger), filósofo alemão, propõe uma “serenidade para com as coisas” de modo a relativizar o valor dos métodos, reduzindo-o a sua função originária. O homem é chamado a ser senhor de suas criações, necessita de saber que a técnica e seus resultados são meios para o bem do homem, de todos os homens. Se há algum problema social, mesmo quando o progresso científico está indo bem, é por que algo está errado, os meios estão sendo utilizados de forma equivocada. É preciso refletir, considerar o valor da pessoa humana como fim último de todas as ações sociais, políticas e tecnológicas.

O profeta Jeremias dá um puxão de orelha em nós, sacerdotes, quer batismais ou ordenados, quando nos achamos responsáveis ou donos das obras divinas e do Corpo que Cristo nos deixou, que é a Igreja. Quando nos consideramos possuidores dos bens divinos e de seu reflexo nas obras concretas, negamos Deus e transferimos a responsabilidade das ações para as nossas mãos. Elas, como os sentidos, que são falhos, tenderá a ser perecível transformando as propostas da Providência Divina em técnicas meramente humanas, falíveis por si só.

O profeta ameaça: “Ai dos pastores que espalham e extraviam as ovelhas do meu rebanho...” (23, 1). Dentre as limitações humanas, chegando a pretensão de acharmos autosuficientes, Deus promete pela boca de Jeremias: “...eu farei brotar para Davi um broto justo. Ele reinará como verdadeiro rei e será sábio pondo em prática o direito e a justiça no país” (23, 5), esse é Jesus Cristo, perfeito Pastor, a plenitude do modelo de ser e viver. Ele sim, mesmo humano, nas palavras do Apóstolo, “é a nossa paz” (Ef 2, 14). Nessa proposta, todo aquele que se afirmar dono do rebanho ou o pleno responsável pelas ações humanas, receberá a mesma repreensão, uma censura Providencial.

Nosso Senhor, ao perceber a atitude dos apóstolos (cf. Mc 6, 30) quando estes voltaram de suas missões, levou-os à compreensão de que aquelas ações não eram humanas, mas Divina. Os discípulos e até mesmo o Cristo eram instrumentos que deveriam levar todos para Deus, “num só Espírito” (Ef 2, 14).

O convite de Cristo para que eles fossem, junto com Ele para um lugar deserto (cf. Mc 6, 31), não foi para que se afastassem das pessoas, mas para que houvesse um verdadeiro esvaziamento das pretensões humanas e um entregar-se aos planos Divinos providenciais e perfeitos.

Deus, em Cristo, plenamente humano, por isso perfeitamente divino, também nos convida a essa kénosis, a um esvaziamento de nossas pretensões de querer ver Deus ainda nesta vida, de querer “agarrá-lo” com nossas mãos e demais sentidos. Ele nos quer como instrumentos, como meios não absolutos, que levam todos para aquele que é Plenamente Divino, por isso, imaterial.
[Artigo Publicado no Jornal "A Folha", da Diocese de Caicó, ANO XXI, Nº 165, 18/07/2009]

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