domingo, 12 de julho de 2009

Sofrimento humano: um sim à vida



Somos seres que, ao mesmo tempo que criamos, somos constituídos pela nossa própria cultura. É evidente que o desenvolvimento técnico e científico contribui muito na vida de muitos, mas por outro lado cria uma acomodação e uma aversão às dificuldades.

Assim como os animais, o homem sempre é levado a fugir da dor e buscar o seu bem estar sempre à procura de segurança para sua vida. A questão problema se inicia quando essa busca se torna absoluta e incondicional. O mais alarmante e perigoso é quando essa corrida pelo bem individua significa o esquecimento e a negação do outro.

Muitas vezes, só lutamos e defendemos certos ideais ou conceitos como solidariedade ou “direitos comuns” quando “eu” serei beneficiado. Não pensamos no bem comum, mesmo que ele signifique o meu sacrifício. É exatamente aqui que o conflito inicia-se; O homem, nessa cultura de rapidez, desenvolvimento técnico e industrial e eficiência nas produções, esquece de uma dimensão central que foi realizada por Jesus e seu resultado foi prometido a todos que o seguissem: O Espírito da Cruz como caminho para a Ressurreição.

Buscamos, por exemplo, a Igreja, o conselho de um padre ou amigo sempre para fugir de uma dor. Nossa relação com o sofrimento é sempre de aversão a ele e, por consequência, de fuga. É esquecido o fato de que os problemas são realidades presentes em nossas vidas e a fuga deles é uma negação de nosso próprio ser.

Todavia, não se está a propor uma filosofia conformista no aceitar sem nenhuma reação o sofrimento. Entretanto, se a dor é fato constante na vida do homem, abraça-lo significa aproximar-se da própria vida. Entra aqui a uma reelaboração do próprio sofrimento humano, transformando-o em possibilidade de crescimento e superação. Ou seja, no enfrentamento e superação das aflições e fores (saindo marcados ou não) obtemos sempre uma lição para a nossa história.

Assim como os conterrâneos de Jesus, procuramos uma salvação sempre fora de nós, a negar aquilo que faz parte de nossa realidade (cf. Mc 6, 3) como a dor os outros problemas. Somos, nas palavras do profeta Ezequiel: “insolentes e de coração endurecido (2, 3) quando não nos deixamos moldar por uma realidade que é dinâmica, que possui valores, mas também conflitos. Esses devem ser superados, e não esquecidos.

São Paulo parece ter compreendido bem e aceitado o Espírito da Cruz proposto pelo Senhor quando afirma: “me comprazo, nas fraquezas, nos opróbrios, nas necessidades e nas perseguições, nas angústias por causa de Cristo” (2 Cor 12, 10) que é esclarecido quando diz: “pois é na fraqueza que a força manifesta o seu poder” (2 Cor 12, 9).

É somente assumindo o sofrimento como possibilidade de afirmação de nossa vida e aproximação do Cristo, morto e ressuscitado, que poderemos fugir da “rebeldia” dos filhos de Deus (cf. Ez 2, 3) e tornar presente sua promessa de perfeição em nossa existência humana.

[Artigo Publicado no Jornal "A Folha", da Diocese de Caicó, ANO XXI, Nº 163, 04/07/2009]

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