domingo, 12 de julho de 2009

Deus nos quer livres



Todo homem é chamado a um desenvolvimento, seja moral, psicológico, corporal ou espiritual. Porém, esse progresso não se dá de forma definitiva, em um tempo específico e determinado. Essa ascensão do indivíduo em busca de uma Perfeição, que a teologia bem conceitua como santidade, só pode ocorrer de forma gradativa, livre e autônoma. Entretanto, atualmente muito se fala e pouco se compreende dos conceitos de liberdade ou autonomia.

O conceito de autonomia vem do grego, significa uma lei (nomos) que é dada a si mesmo (autos). O homem é chamado a agir de forma autônoma criando leis que vão regular a sua vida. Não se fala aqui, no entanto, de uma relativização das regras sociais em virtude dos desejos individuais.
As regras, normas e limites que são postas à nossa frente devem ser abraçadas por nós. Devemos concretamente torná-las parte de nossa moral, não como uma lei que vem de fora e nos obriga a algo que eu não quero, mas como uma proposta de caminho que já foi pensada e seu valor reconhecido.

Todavia, nenhuma regra deve ser tomada como inquestionável, isso acabaria com toda a proposta de crescimento que é marca do próprio homem e que reflete em seu contexto. Para que haja, portanto, uma ação autônoma, não devemos buscar novas regras de vida para seguir, mas a continuação das que já existem, compreendendo-as ou questionando-as para o seu aperfeiçoamento.

Santo Agostinho, filósofo e teólogo do século IV, afirmou que para que o homem pudesse buscar a Suprema Perfeição com liberdade, ele recebera o livre-arbítrio. Deus não queria que todos se aproximassem dele como algo mecânico, mas por livre iniciativa das próprias pessoas. É só nesse sentido que pode haver o conceito de pecado ou, em termos seculares, de erro ou crime, o indivíduo só pode ser punido por algo se ele agiu em liberdade, “porque quis”.

Quando o Senhor envia os seus discípulos, Ele não quer uma conversão imposta, mas uma aceitação livre das pessoas. É, portanto, o anúncio a peça chave da evangelização. A demonstração por meios de palavras e pelo próprio testemunho de vida deve ser a peça chave para a proposta de crescimento pessoal e social.

Nesse sentido, não seria Deus que condenaria os homens pelos seus erros. O “calor” físico e a “dor” concreta dos infernos, da distância completa da Perfeição seria conseqüência lógica de nossa decisão livre da negação do Divino. Por isso é que Jesus ordena a seus discípulos: “sacudi o pó de debaixo de vossos pés em testemunho contra eles” (Mc 6, 11), para os que não aceitam o anúncio mesmo tendo um testemunho concreto de vida.

Para que nosso modo de agir seja perfeito, e possamos nos aproximar de forma plena de Deus, Ele mesmo nos dá um exemplo a seguir: Cristo, a Divindade Encarnada. O apóstolo Paulo bem ilustra esse Dom-Testemunho quando afirma que Deus nos dá “a conhecer o mistério de sua vontade” (Ef 1, 9) em Jesus Cristo. É somente o Senhor que deve encabeçar (cf. Ef 1, 10), isto é, ser princípio de todas as nossas ações morais, pois Ele nos deu o testemunho perfeito de ação.

Que saibamos anunciar primeiramente à “casa de Israel”, isto é, àqueles que estão próximos de nós, o modo de vida ensinado por Cristo através de nosso próprio testemunho de ser e agir. Possamos levá-Lo de forma simples (cf. Mc 6, 8-9), vazios de nossos preconceitos ou categorias que somente reduziriam a proposta de Deus.

Não esperemos, entretanto, ser aceitos ou compreendidos, estamos sempre a nos relacionar com pessoas que tem a liberdade de aceitar ou não a proposta que Cristo fala através de nós. Aprendamos a esperar no Senhor, Ele que sabe agir de formas naturais e sobrenaturais para atrair todos para Si.

[Artigo Publicado no Jornal "A Folha", da Diocese de Caicó, ANO XXI, Nº 164, 11/07/2009]

Um comentário:

  1. Olá Bruno! Retribuindo a tão prometida visita... Não sou a pessoa mais indicada para falar sobre religião, pois não tenho conhecimento profundo sobre o assunto, mas acredito que Ele nós quer livres para sermos "o que quisermos", contanto que exista amor em nossos corações. "Ainda que eu fale todas as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor sou como o bronze que soa ou o sino que retine... mesmo que tivesse toda a fé a ponto de, transportar montanhas, se não tiver amor, não serei nada" (I Cor. 13,1-13). Viva o amor proclamado em atos e não apenas em palavras! \o/

    Ah, você viu a última postagem do meu blog? Tem a mesma imagem que a sua. Depois confira lá. É uma composição primorosa de Narciso.

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