domingo, 23 de agosto de 2009

O verdadeiro alimento – II




O homem, sempre teve dentro de si o desejo de felicidade. Seja quem for, qualquer que tenha sido seu período histórico, sua crença ou filosofia de vida, ele está continuamente na busca por um bem-estar. A diferença está exatamente em haver diferentes compreensões dessa “felicidade”.


Sabemos que os sofrimentos, os momentos de crise, sejam materiais, espirituais ou emocionais, estão presentes durante toda a vida do homem. É buscado um bem-estar concreto ou uma felicidade momentânea exatamente para esquecer o conflito pelo qual se passa. Pode ser que o problema seja posto de lado, mas ele não é eliminado. Nessa fuga, se está como Elias, somente adormecidos (1 Rs 19, 3s). Porém, o sofrimento sempre volta quando se acorda.


A resposta dada por Deus é a postura de Cristo, no aceitar o sofrimento como condição que nos leva a ressurreição. As dores e as imperfeições do homem estão sempre a apontar para cima, para a possibilidade de perfeição da humanidade, na aproximação de uma felicidade que não é material, por isso, plena.


É, portanto, na aproximação de Cristo e na imitação de sua pessoa que se pode dar sentido aos sofrimentos. Jesus é o alimento, que não elimina os conflitos humanos, mas dá forças na caminhada terrena (1 Rs 19, 7) em busca de uma felicidade, que não se encontrará de forma perfeita nessa vida.


O modo de aproximar-se, ainda que de forma imperfeita, dessa Felicidade Verdadeira é ouvindo as palavras de São Paulo: “Sejam imitadores de Deus, como filhos queridos” (Ef. 5, 1). Essa imitação se dá somente em Jesus, Palavra Viva, feito carne, dada a nós por Deus. É nesse sentido que o Senhor se apresenta, não como solução, mas como postura diante da vida, como alimento que dá forças ao homem para a caminhada.


Porém, queremos soluções sempre prontas, em nossas mãos, um redentor que faça tudo para nós. É esquecida, com isso, a necessária construção do Reino de Deus, que é responsabilidade humana, acompanhada pela Sabedoria divina. Foi com essa mesma postura que os judeus criticavam Jesus. Eles esperavam um salvador à cavalo, com espada na mão e não um “louco”, que pregava um modo de ser e agir totalmente contrários à postura da época. Essa é também a nossa postura quando não vemos em Cristo um modelo de homem perfeito, que torna possível a construção da verdadeira humanidade.


A promessa de felicidade é dada pelo próprio Deus, em Cristo, verdadeiro alimento, palavra viva: “Eis aqui o pão que desceu do céu: quem dele comer nunca morrerá” (Jo 6, 50). A “imortalidade” é exatamente a vida eterna, a felicidade que nunca acaba, próximos de Deus, o pleno bem-estar que o homem tanto busca.


Essa vida longe de tudo que é material, por isso, imperfeito, não se dá, porém, na negação da humanidade, mas no caminhar no processo de nossa autoconstrução contínua tendo Jesus como alimento-modelo dessa estrada. Essa trilha tem Deus como meta, fim da procura insaciável do homem por bem-estar, por uma Felicidade Completa e Infinita.


Que possamos ir aproximando-se do fim de todo homem que é a Perfeição, Deus, plena alegria do homem, seguindo os passos deixados por Jesus. Ele, que caminhou nessa terra, conheceu todas as adversidades humanas. A passar por todas elas e sair ileso, não pecando e ressuscitando após a morte, Cristo é o alimento nessa nossa caminhada rumo ao Pai celeste, que quer todos próximos de Si.

[Artigo Publicado no Jornal "A Folha", da Diocese de Caicó, ANO XXI, Nº 167, 08/08/2009]

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