quinta-feira, 23 de abril de 2009

“Segue-me”


A viver a experiência da Semana Santa, Cristo convida-nos à imitá-lo. Nossa veneração à sua humildade, serviço, morte e ressurreição, quando não tornada atual, será sempre repreendida por Jesus. O Senhor, ao ver as mulheres lamentando-se pelo Seu sofrimento, as repreendeu: “Não chorem por mim! Chorem por vocês mesmas e por seus filhos!”(Lc 23, 28).


Todo sofrimento de Jesus é o reflexo de nossos pecados. Para salvar-nos, Deus uniu a necessidade da justiça na punição de nossas culpas e o Seu amor por nós. Para isso, virou-se contra Si mesmo, entregando-se em sacrifício, salvando-nos (Cf. DCE 10).


Se Cristo, Árvore da Vida, sofreu daquele modo, que merecemos nós, “galhos secos”? (Lc 23, 31). Como primeiros responsáveis pelo sofrimento daquele que “foi feito pecado por nós” (II Cor 5, 21), somos também chamados a participar do mistério da salvação e sua atualização em nossas vidas.


Quando o Senhor entra em Jerusalém, dá-nos um sinal de humildade. Ele não realiza nossos desejos de glória, mas, propõe-nos a entrega de si pelo esvaziamento de nossas vontades na entrega ao plano divino e a simplicidade de vida como modelo para a “Vida Eterna”.


Ao lavar os pés dos discípulos, somos alertados que o sacerdócio comum, ao qual participamos por meio do batismo, impele-nos ao serviço. O Senhor quebra e inverte a hierarquia de poderes quando afirma que “o maior dentre vós deve ser aquele que serve” (Mt 23, 11). O próprio Deus que é Rei de toda a criação afirma que veio “não veio para ser servido, mas para servir” (Mt 20, 28). E nós, criaturas?


Na instituição da Eucaristia, Jesus nos ordena: “Fazei isto em memória de Mim” (Lc 22, 19). Somos também levados a nos transformar a cada dia em Eucaristia, pão da vida, na entrega, no serviço aos irmãos. Quando isso não ocorre, ele não se encarna e repreende-nos novamente a olhar nossas vidas. E nós? Entramos em comunhão com Deus nessa doação em sacrifício pelo outro?


A paixão é o que mais aproxima-nos do Servo Sofredor. Mas, se o nosso sofrimento cotidiano não for conformado ao de Cristo, nunca tomaremos nossa cruz para segui-lo. Somente associando o nosso sofrimento ao de Nosso Senhor, é que participaremos de Sua ação redentora. Só assim, chegaremos a promessa do Deus Fiel, a ressurreição, a plenitude da vida.


A morte não é o ápice, mas a via necessária para a ressurreição. É a nós pedida uma morte, com Cristo, para ressurgirmos com Ele. Somos chamados a morrer anualmente, associando-se ao mistério pascal. Somos convidados a morrer cotidianamente em um aperfeiçoamento constante de vida. É a nós proposta uma morte em cada falta cometida, arrependendo-se, levantando-se, tomando a cruz e seguindo-Lhe.


A Vida Perfeita, o ressurgimento da morte, deixa de ser uma promessa e passa a uma conseqüência necessária. Somente quando seguimos e participamos das propostas de Cristo, chegaremos ao Seu fim: a ressurreição, uma nova vida. Pois como bem nos diz o Apóstolo: “Se alguém está em Cristo, é nova criatura” (II Cor 5, 17).


Para que vejamos Jesus vivo em nossa humanidade, devemos ouvir a voz do anjo ao ser encontrado vazio o túmulo: “Vocês devem ir e dizer aos discípulos e a Pedro que Ele vai para a Galiléia na frente de vocês” (Mc 16, 7). Jesus se faz presença viva toda vez que Suas obras são retomadas e assumidas por nós.


O Senhor está constantemente a nos pedir: “Segue-me” (Mt 16, 24; Mc 8, 34; Lc 9, 23). Pois, como ele mesmo nos confirma: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14, 6). Ninguém chega à ressurreição senão em Cristo. Somente seguindo e atualizando toda a ação redentora apresentada, não somente no mistério da Páscoa, mas em toda a vida de Jesus, poderemos anunciar verdadeiramente:


“CRISTO VIVE!”



[Artigo Publicado no Jornal "A Folha", da Diocese de Caicó, ANO XXI, Edição Especial, 11/04/2009]

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