quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Olhos fixos




Um ícone que mais deve ter chamado a atenção na festa de Sant’Ana de Caicó desse ano de 2011 foi a ausência de bebidas alcoólicas sob a responsabilidade da Igreja. Outras perguntas podem e devem surgir a partir dessa realidade?


O consumo de bebida diminuiu nesses dias de festa? Alguém deixou de beber somente por que a Igreja não disponibilizou bebida? A Igreja não poderia lucrar mais com essa venda, mesmo que ela fosse somente reservada a alguns tipos de bebidas? Será que houve alguma mudança de comportamento partir dessa nova postura?


A Igreja, seguindo a proposta do Deus encarnado, também assume a compreensão de que o homem é um ser dotado de liberdade. Como mestra, ela aponta os caminhos a serem seguidos, mas não obriga ninguém a assumir determinada postura. Mesmo sendo mãe, ela nunca ficará nos pés do filho dando sim ou não ao que ele deve ou não realizar.


A Igreja não lucrou, não mudou a postura de ninguém, quanto mais converteu alguns dos que gostam da bebida. Entretanto, essa postura fez com que seu discurso passasse a ser mais coerente. Em um mundo de tantos vícios, uma Igreja que cresce sendo alimentada por erros tende, mais cedo ou mais tarde, a afundar em sua própria contradição.



A bebida, mesmo sendo um instrumento de socialização para alguns, é meio de desgraça para muitos outros. Mesmo aqueles que bebem somente para diversão estão sendo iludidos por uma falsa felicidade, que é comprada ou construída à base de simples doses ou pequenos goles.


Pedro, ao assumir os passos de Cristo, enfrentando as primeiras dificuldades, começa a afundar. O apóstolo afunda pelo fato de que começou a desviar-se do caminho, outras coisas começaram a chamar mais atenção do que Cristo.


Viver na busca de uma pseudo-alegria significa um desviar-se da verdadeira alegria. Desviar-se dessa plenitude, deixando-se enganar por outras adversidades, nos faz afundar, imergir em um mundo de caos, sem perspectiva de futuro.


A Igreja, mesmo com as suas adversidades, está sempre a apontar para a possibilidade de uma vida plena. Compreender, aceitar e abraçar essa dinâmica de uma vida feliz, fundada em uma alegria integral requer um espírito de fé. Acreditando que podemos viver de uma maneira feliz, sem falsas alegrias, em uma luta diária para que a felicidade possa ser construída gradativamente, e não comprada.


Que nós também possamos entrar nessa dinâmica de uma fé que nos lança para a luta de construção de nossa felicidade. A busca por instrumentos pré-fabricados que constroem uma falsa alegria só constrói um ser humano frágil, que, com a menor das adversidades, imerge em um mundo de caos.


Maria é aquela que nos ensina a virtude de uma esperança que se fundamenta na construção da felicidade plena. Ela, ao aceitar a realidade de gerar o filho de Deus, deixou de lado muitas outras possibilidades de felicidades. Aquela jovem, ao aceitar aquele que era a vida em plenitude, buscou integralmente aquela realidade.


Em um mundo de variadas facilidades e múltiplos prazeres, possamos olhar fixamente para aquele que nos dá a vida plena, já que Ele mesmo traz em si essa plenitude. Aprendamos a construir, no esforço e no sacrifício, a vida que tanto buscamos. É evidente que essa busca não é fácil, é preciso ter os olhos fixos naquele que traz em sua vida a plenitude da existência, e está constantemente a nos assegurar...


“Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!” (Mt 14, 27).

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