quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Deus, o único fim

Estamos na sociedade dos planejamentos, dos projetos, das metas e dos prazos a serem atingidos e cumpridos. Tudo passa a ser medido pelo grau de eficiência das ações. Buscamos uma qualidade em todas as nossas atividades. Queremos colocar todas as realidades que nos envolvem dentro do plano lógico da eficácia, mas esquecemos de trabalhar com o que é básico em nossa existência: a vida.

Max Weber, sociólogo alemão, identificou que a sociedade moderna entrou em um processo de burocratização. Tudo passa a ser medido, quantificado e definido segundo valores objetivos. Essa realidade não é negativa, todos precisamos de certa organização em nossas atividades, cumprir objetivos, estabelecer metas, construir sonhos para o que buscamos de mais essencial em nossa existência.

O problema do processo de burocratização da vida, estudado por Weber, estava no fato de que o homem desaparecia nesse processo. A vida estava se tornando tão racional e objetiva que deixava ser vida, perdendo a sua dimensão complexa, ilógica, transcendental.

Se perguntássemos a qualquer um de nossos conhecidos quais os objetivos de sua vida e depois fôssemos insistindo questionado o porquê de cada um deles, mais cedo ou mais tarde a palavra felicidade, ou alguma equivalente a ela, surgiria. O homem tem sonhos e metas porque quer ser feliz, precisa de uma paz interior.

O problema está no fato de que ele não consegue distinguir entre o que é fim em si mesmo e quais serão os meios para conseguirmos essa meta definitiva. Nesse espaço é que o emprego, os bens materiais, a família e os amigos tornam-se uma meta final. Esses, que deveriam fazer com que o homem fosse feliz, tornam-se o seu único objetivo.

Entretanto, esquecemos que tudo isso é fácil de ser conquistado, basta atenção no objetivo e o esforço necessário para construí-lo. Por outro lado, se esses objetivos são considerados como fim em si mesmo, logo que forem realizados, fará com que o homem perca o sentido de sua caminhada. Isso porque estaria havendo uma troca de meios por fins.

A felicidade verdadeira que o homem busca é a eterna, ou seja, a que é plena, a que dura para sempre, de forma perfeita. Essa não pode ser construída se não a temos, primeiramente, como o objetivo primeiro de nossa vida, por meio do qual todos os outros serão instrumentos de sua realização.

É nesse sentido que Jesus pede de nós uma decisão firme e definitiva para a nossa vida quando afirma que não podemos servir a dois senhores (Lc 16, 13). Se colocamos a riqueza, o nosso emprego ou as pessoas que estão próximas a nós como único bem que podemos possuir ou já possuímos estamos perdendo o norte de nossa vida já que essas metas podem ser facilmente conquistadas e perdidas.

Deus é o único fim de nossas vidas. Quando conformamos todas as nossas ações à sua vontade estamos aprendendo a buscar a felicidade definitiva de forma mais decisiva. Os bens materiais, nossa posição social e as pessoas que estão próximas a nós devem ser instrumentos para esse fim último: a felicidade.

Que nós possamos aprender com Maria o sentido de uma decisão plena pela proposta de encarnação do Verbo de Deus. Ela não soube somente deixar ser instrumento de Deus, mas também optou por essa proposta dando um sim definitivo. Se a jovem de Nazaré ainda estivesse dividida entre a palavra de Deus e a sua própria vontade, conseqüentemente Jesus Cristo não teria nascido.

Vejamos em Maria a possibilidade de uma decisão firme e sólida para a construção de nossa felicidade. Deixar-se dividir entre a mensagem de Deus e as propostas humanas de felicidade é arriscar trocar o certo pelo duvidoso, o eterno pelo contingente, a vida plena pelos bens que se esvaem na primeira tempestade.

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