quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Uma fé constante

Diante de conflitos pessoais ou sociais, nos perguntamos se Deus não está vendo essas realidades. Onde ele estaria que não nos ajuda e mostra-nos logo uma solução para tais problemas, já que ele tem o poder de curar toda enfermidade e organizar toda espécie de confusão. O fato é que ele pode, sim, dá um basta em todas as dificuldades que enfrentamos, mas não o quer no nosso tempo.

Estamos na sociedade do consumo, do “pagou-levou”, da rapidez nas compras, da comida pronta e dos “objetos” descartáveis, humanos ou não. Essa mesma compreensão é projetada também em Deus. Queremos que ele também seja à nossa imagem e semelhança, atenda às nossas necessidades de forma imediata e solucione os nossos conflitos instantaneamente.

A própria oração e muitos rituais são transformados em fórmulas mágicas que, quando utilizados, têm a função de conquistar certos pedidos. Fato é que, mesmo justos e bons, tais necessidades não podem ser conquistadas de Deus por uma troca material. Deus não quer as nossas riquezas, as nossas habilidades ou virtudes, ele não se deixa persuadir por eles, mas quer o nosso espírito de sacrifício e uma fé perseverante.

A vitória sobre nossas dificuldades só pode ser construída a partir do momento em que temos a consciência de que ela não virá sem sacrifício. Nada que temos é dado de forma gratuita, tudo que existe possui um valor intrínseco, seja na esfera material, intelectual, psicológica ou espiritual. Do mesmo modo, os bens que desejamos receber também devem ser acompanhados por um espírito de luta, de constante e gradativo esforço por sua realização.

O relato do livro do Êxodo da vitória do povo de Israel sobre os amalecitas (cf. Ex 17, 11ss) apresenta a postura de Moisés que pede, insistentemente, a Deus o sucesso de seu povo. A atitude perseverante daquele homem mostrou que seu pedido não era somente humano, mas um ato de fé, no lançar-se diante de um mistério que nem mesmo ele compreendia naquele momento.

Do mesmo modo São Paulo dá continuidade a esse ato de fé em Deus quando pede a Timóteo: “[...] permanece firme naquilo que aprendeste e aceitaste como verdade” (2 Tm 3, 14). A promessa de salvação feita por Deus sempre vêm, mesmo que não seja no momento em que desejamos ou esperamos. O ato de esperar, na oração, pela realização dessa promessa já indica que o homem deve deixar Deus ser Deus, aceitando o seu tempo e a sua vontade.

Nesse caminho, a palavra de Deus é a base na qual será firmada os passos daqueles que querem a superação de suas necessidades. Ela que é fonte de vida, porque voz divina, deve ser utilizada para o crescimento daquele que quer permanecer no caminho que leva a felicidade plena.

Assim, continua o Apóstolo: “eu te peço com insistência: proclama a palavra, insiste oportuna e inoportunamente, argumenta, repreende, aconselha, com toda a paciência e doutrina” (2 Tm 4, 2). A palavra de Deus não é uma espécie de livro que nós devemos ler somente quando estamos tristes ou, pelo contrário, apenas alegres. Mas é fonte permanente de vida, portanto, deve guiar todas as nossas atitudes, sempre.

Uma oração insistente e constante, fundada na Palavra, é que torna possível a realização das nossas necessidades e a superação dos problemas que atingem tanto a nós quando à nossa comunidade. Deus prova a nossa fé, testa-nos para ver se estamos dignos de nos aproximar de sua majestade e gozar de sua felicidade, ele faz “justiça os seus escolhidos, que dia e noite gritam por ele” (Lc 18, 7), basta que a mereçamos.

Maria é para nós o exemplo daquela que conquistou a promessa feita pelo Pai. Ela não foi beneficiada de forma gratuita, mas soube gerar aquele que foi o Filho do homem no silêncio e na simplicidade de sua vida. Porque esperou a manifestação de Deus, Maria soube conformar-se plenamente aos desejos do Senhor, gerando-o em seu ventre.

Possamos também adquirir essa paciência e constância de fé, tão necessárias ao nosso crescimento em busca da realização das promessas feitas por Deus em Cristo. Deixemos que Deus seja Deus, peçamos somente que aprendamos a reconhecer no meio do mundo a Sua mão providencial que está sempre a nos guardar e guiar rumo à manifestação da glória eterna planejada para o homem: a ressurreição.

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