quinta-feira, 21 de outubro de 2010

O servo homem


Neste dia 03 de outubro todo o Brasil vai realizar suas eleições para os cargos de deputados estaduais e federais, senadores, governadores e presidente da República. O processo democrático, por mais críticas que possa receber, mostra-se como o caminho de uma participação do povo nas decisões políticas de seus interesses.

O problema surge quando a estrutura representativa, inserida no regime da democracia em nosso país, realiza uma inversão de valores. Aquele que deveria estar representando o povo torna-se cabeça de interesses particulares ou de uma pequena elite político-econômica. O servo torna-se senhor.

Isso é bem claro em nossa realidade. Os homens que recebem mais votos de confiança são os que são provenientes de uma estrutura política já alicerçada em nosso contexto, representam famílias já conhecidas, poderes já sedimentados, ideais já cristalizados. Os nossos políticos vão, aos poucos, se transformando em pequenos deuses, ídolos que devem ser eleitos pela imagem que possuem.

Nesse ínterim, as propostas políticas são as que menos importam no processo eleitoral. Vota-se pelo grupo político que rodeia, pelo apoio que recebem e, pior ainda, pelas obras que já foram realizadas.

O filósofo político italiano Noberto Bobbio afirmou que os limites de um processo democrático está no fato de que o jogo entre poder e direito são invertidos. O poder político, que deveria representar efetivamente o direito do povo, recebe um domínio tão amplo que acaba arrogando-se e esquecendo seu papel fundamental: o de representar. Os direitos dos homens tornam-se joguete em uma estrutura sócio-política articulada por um poder isolado.

Jesus nos apresenta a figura do servo que doa-se integralmente pela realidade que lhe foi confiada (cf. Lc 17, 10). Só o ato de servir já apresenta, em si, a sua riqueza. Estamos construindo algo de concreto para a felicidade de outras pessoas, somos motivo de alegria para outros homens.

Mais excelente ainda é a postura daquele que serve sem esperar nada em troca, não pelo fato de ser o melhor, mas por causa de que esse tem menos chance de se decepcionar com os que o rodeiam. Colocando uma esperança demasiada nos homens, tornamos-lhes ídolos, imagem que será sempre quebrada pela humanidade que a cerca.

Como pessoas que buscam um crescimento pessoal, político e social, portanto, humano, devemos nos compreender dentro de uma estrutura democrática que é fundamentada pelo serviço. Ofício que deve ser reconhecido como um bem em si mesmo, não pelo endeusamento daquele que trabalha, qualquer que seja a função.

O homem evangélico deve ser caracterizado por um contínuo estado de serviço, doação ao outro, como meio de fazer o bem a quem precisa e de autosatisfação, pelo sentimento de utilidade humana. Reconhecer-se servo é aceitar a nossa condição de criaturas, que fomos construídos para a busca de um bem, que só o é efetivamente quando comunitário.

A jovem de Nazaré é o exemplo de criatura que se fez serva, não exigindo nada em troca por isso. Sua missão, por grandiosa que fosse, não foi reconhecida por recompensas imediatas e materiais. A conquista de Maria foi de sentido, ela conseguiu compreender o significado de sua existência, porque se fez criatura. Ela foi feliz, portanto, porque se fez serva.

Que nós possamos nos compreender em uma comunidade de servos, de criaturas que devem buscar o bem mútuo, por isso lutam pela felicidade comum. Aprendamos também a ver nos homens que vão nos representar a possibilidade de líderes-servos, à exemplo de Nosso Senhor. Por meio do serviço, a vontade de Deus se realiza em nossa realidade e, como Cristo, habita entre nós.

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