domingo, 3 de novembro de 2013

O caminho interior

O caminho interior


“É preciso que eu fique hoje em sua casa” (Lc 19, 5)
 
Não podemos olhar para Zaqueu somente como um pecador que estava distante de Deus e depois que se encontra com Jesus muda o seu caminho. É preciso ir mais profundo. Essa é uma lógica muito precisa, mas pouco humana. Ele, mesmo em sua condição de pecado e injustiça, buscava ver Jesus. Em sua busca por acumular riquezas, queria a felicidade. Entretanto, esse bem era mal direcionado, porque era egoísta.
Ele, entretanto, não conseguia por causa da multidão. O encontro com Deus é uma relação pessoal, que muitas vezes vai contra a ordem das coisas, do que é comum. Isso porque conceitos como caridade, serviço, sacrifício, entrega são realidades que estão muito além da lógica, do normal. São movimentos que nos fazem sair de si e ir em direção ao outro.
Duas forças aparecem nesta dinâmica. Primeiro, a busca de Zaqueu por Jesus subindo em uma árvore para vê-lo. Essa. parece ser uma ação ativa daquele que busca Deus. Todavia, se torna egoísta quando se resume no concentrar-se das próprias forças: “Sou eu que busco Deus e o encontro com meu próprio esforço”. Ao mesmo tempo em que é egoísta é soberba, porque quer encontrar-se com Deus elevando-se acima dos outros, querendo ir além da própria humanidade.
No segundo movimento, acontece a ordem de Jesus para que Zaqueu descesse. O verdadeiro encontro com Deus se realiza em nossa própria casa. Tal dinâmica se resume na abertura que devemos ter diante dele que só entra em nossa existência se abrimos as nossas portas. Esse é um encontro pessoal com Cristo que mostra a verdadeira face de nossa humanidade. Essa abertura aparenta ser passiva, mas representa o grande sacrifício de estar diante de nossas próprias limitações e encará-las como o espaço onde Deus atua.
Não podemos, portanto, falar de caminhos contrários. Ambos são direcionados à felicidade, mas um é limitado porque é egoísta, tendendo aos próprios bens. O outro, não deixando se ser humano, mostra que a verdadeira felicidade não está fora, mas no mais íntimo de nosso ser.
Todos nós somos filhos de Abraão, somos filhos da promessa. Essa, para se realizar, precisa de nosso sim, de nossa abertura ao mistério de Deus que nos aponta a felicidade. O caminho, mesmo sendo longo e árduo, é certo, porque é para nosso interior. Lá ele quer entrar e permanecer conosco.

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