quinta-feira, 7 de abril de 2011

É preciso morrer

Ao entrarmos em um Shopping vemos o grande ícone do mundo moderno. O próprio nome já indica sentido: “comprando”. Esse ambiente não revela apenas um espaço de múltipla escolha de produtos, mas uma necessária postura de quem nele adentra: “temos que comprar”.

A grande variedade de preços, a enorme competitividade e os múltiplos serviços que encontramos no mercado atual nos dá a impressão de completude. Não precisamos ir muito longe de nossas casas para obter aquilo que quisermos. Basta um simples telefonema ou um rápido clique para que nossas necessidades sejam satisfeitas.

Essa realidade revela, por outro lado, uma face que não conseguimos ver. A velocidade da compra é a mesma que tornam os produtos obsoletos. Afinal, quanto tempo durou nossa primeira televisão? Quanto tempo durará a que está em nossa residência? O que está falando a mídia sobre os computadores que eram de última geração há cinco anos?

Quando vamos a um hipermercado, ou algo do gênero, que vende do creme dental ao mais recente aparelho de televisão temos a impressão de que nada que temos em casa nos serve. A propaganda está constantemente, de forma direta ou indireta, a nos dizer que estamos cercados de velharias e que, rapidamente, devemos trocá-las para nos afirmar homens do século XXI.

Esse caminho cria na pessoa uma cultura do lixo. Essa rápida desvalorização dos produtos produz uma enorme “sobra” em nossas sociedades. Esses detritos refletem a estruturação de uma gradativa cultura de morte. Nesse caminho, o homem que não segue essa cultura do consumo, mais cedo ou mais tarde também se torna “sobra”, é um morto para o mundo.

O apóstolo Paulo, ao escrever aos Romanos aponta uma saída que é superação de uma cultura de morte: “[...] os que vivem segundo a carne não podem agradar a Deus” (Rm 8, 8). Os que vivem acompanhando uma cultura de morte não podem entrar em comunhão com o Deus da vida. É preciso entrar no espírito da Vida.

Nós encontramos essa vida, da forma mais clara, na pessoa de Jesus Cristo. Ele é o ícone da verdadeira ação que transformou a morte em vida. Paulo complementa: “Se alguém não tem o espírito de Cristo não pertence a Cristo” (Rm 8, 9). É em Jesus que encontramos o sinal maior daquele que destruiu morte quando morreu para o mundo no serviço e no amor aos homens.

Aí está a resposta: para destruir a morte e sua cultura é preciso morrer fora sua dominação, ou seja, no Espírito de Vida, que dá a vida.

A imagem da ressurreição de Lázaro apresenta-nos a imagem da nova vida que é dada ao homem que morre em Jesus. Tomé, chamado gêmeo, compreendeu essa caminhada quando chamou os outros: “Vamos nós também para morrermos com ele” (Jo 8 16). É preciso aprender a morrer para um mundo de morte para, com Cristo ganhar uma vida nova.

Lázaro saiu da morte quando, dentro de um túmulo, cheio de mal cheio, ouviu Jesus o chamando para fora (cf. Jo 8, 43). Ele, porém, só conseguiu viver de forma plena quando viu o mundo em que vivia com seus próprios olhos e andou com suas próprias pernas em um caminho, antes confuso, agora sem a interferência de ninguém dizendo a ele o certo ou o errado.

Nessa caminhada quaresmal, olhemos para a imagem de Maria e vejamos nela o exemplo daquela que também soube morrer. Deixando ser feita em si a vontade do Pai, a jovem de Nazaré se entregou a um mistério que ultrapassava a compreensão humana. Ela, com seu Filho, ressuscita e entra na vida eterna.

Superemos essa cultura de morte que transforma o mundo, os objetos e as pessoas em projeto de “sobra” de desejos individuais. Aprendamos a morrer para essa cultura. Busquemos a vida que nos é apresentada no verbo de Deus, Jesus Cristo. Nele vamos completar a caminhada da Palavra de Deus que andou sobre a terra: vida, sofrimento, morte e ressurreição.

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