quinta-feira, 28 de abril de 2011

Um olhar aberto


A mídia noticiou, na semana passada, o caso do jovem que entrou em uma escola do Rio de Janeiro, no Realengo, e matou doze crianças. Além de ter deixando muitas outras feridas, aquele jovem marcou aquela comunidade e todos os que acompanharam esse caso.

Mas o que nós aprendemos com tudo isso? A comunidade, encabeçada pelos meios de comunicação social, diante da morte do principal agente do crime ainda tenta encontrar um culpado. Culpando e penalizando alguém, ela novamente vai deitar tranqüila sobre a imagem de que a justiça foi feita.

A busca desesperada por um bode expiatório que possa ser responsabilizado por esse terrível fato sustenta o esforço social em se isentar dos eventos criminosos que são praticados ao seu redor. Nesse sentido, nós queremos montar uma imagem social que nos isente de qualquer responsabilidade ou de qualquer esforço de transformação.

O mesmo esforço foi realizado pelo povo judeu para construir a imagem do Messias. Para muitos, era escandaloso o fato de que aquele que iria retirar o povo da escravidão e da opressão fosse um homem manso, que viesse montado em um jumento (cf. Mt 21, 5), trazendo uma mensagem de amor e paz.

Era mais agradável e confortadora a imagem de um salvador forte, que viesse com uma grande tropa, montado em um cavalo, com espada na mão. Diante disso, um homem que se diz filho de Deus, mas que não anda com bolsa nem sacola, montado em cria de jumenta e prega o amor como fonte de libertação cria confusão na cabeça de quem já tinha montado uma imagem.

É muito mais fácil, para a nossa comunidade ter que culpar alguém que foi colaborador daquele jovem, que tenha vendido as armas ou o incentivado em idéias terroristas. É mais simples olhar para alguém e projetar toda a responsabilidade do que compreender que o assassino é fruto de uma sociedade doente.

O terrorismo não surge do nada, sendo fruto de uma cabeça totalmente perversa, ele é,por outro lado, construído a partir de uma rede social injusta, que cria pessoas doentes fazendo-as praticarem atos também doentios. Um homem que não se vê apoiado por ninguém ao seu redor e não tem o esforço crítico para questionar seriamente a sua estrutura social facilmente cria um mundo à sua imagem e semelhança.

O assassinato de doze crianças foi apenas a “febre”, a expressão de um problema interno muito mais complexo que envolve a sociedade. Se queremos colocar a responsabilidade em algo, compreendamos a cultura individualista em nosso meio, apontemos para nós mesmos, que geramos gradativamente, mesmo sem perceber, mais criminosos, assaltantes e doentes mentais. Essas pessoas não encontram mais nesse mundo e nas pessoas que nele habitam esperança de vivência e convivência. Podemos culpá-los por isso?

Aprendamos a olhar para a humanidade que nos envolve e a retirar dela as respostas que precisamos para a afirmação da vida nos espaços de interação. Vejamos a imagem do Cristo. Ele soube assumir essa humanidade em todas as suas dimensões naturais, como confirma o Apóstolo: “ele esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos homens” (Fl 2, 7).

“Por isso Deus o exaltou” (Fl 2, 9). Deus elevou àquele que soube retirar da humanidade as respostas para a vida plena. Do mesmo modo, aqueles souberam e sabem reconhecer a grandeza do enviado de Deus e a novidade que ele trouxe também construíram e constroem a plenitude da vida.

Maria é a figura que nos acompanha nesse trajeto de compreensão da inovação trazida pelo Filho do Homem. Ela, mesmo sendo de família simples, não hesitou em ser a mãe do Messias. Maria também se abriu a uma proposta humana, filosófica e teologicamente inconcebível, gerar Deus em um ventre humano. Abrindo-se ao mistério, a virgem Mãe de Deus soube realizar o perfeito encontro com Cristo, Verbo de Deus, Palavra de vida.

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