sexta-feira, 1 de abril de 2011

Ver o invisível

“Tinha uma pedra no meio do meio do caminho”

Carlos Drummond de Andrade

Dentro das discussões da Campanha da Fraternidade 2011 que traz a questão ambiental como sua principal preocupação, a palavra conscientizar nunca foi tão mencionada. A saída que primeiro surge aos nossos olhos diante dos problemas acerca do meio ambiente sempre envolve a educação das pessoas para que tomem ciência dos males que atingem a natureza.

Informação nunca é desnecessária. Mas quem nunca ouviu falar, por pouco que seja, sobre o aquecimento global? Buraco na camada de ozônio? Desmatamento da floresta amazônica? Desertificação? Ou apenas mudanças climáticas?

E se tudo isso for desconhecido, quem não sentiu, pelo menos, que a temperatura subiu deixando o tempo mais quente dentro ou fora dos espaços urbanos?

Essas questões só nos mostram que precisamos superar esse estágio das discussões “conscientizadoras” e ir para a mudança de postura diante dos bens naturais. Devemos prosseguir a parte do “discutir” o problema e passar para o “resolver”.

“O quê?”, “Como?”, “Quando?”, “Com quem?” e “Até quando?” devem ser questionamentos que pautem as nossas reflexões acerca dos obstáculos que identificamos e enfrentamos.

Jesus Cristo aponta um problema que a nossa comunidade traduziu no velho ditado: “O pior cego é aquele que não quer ver”. Diz o Senhor por meio de João: “Se fôsseis cegos, não teríeis culpa; mas, como dizeis: ‘Nós vemos’, o vosso pecado permanece” (9, 41).

A isso podemos acrescentar, o nosso erro permanece e se multiplica quando sabemos o problema, temos a capacidade de solucioná-lo, mas não o fazemos porque queremos sempre colocar a culpa no outro.

Dizer que o desmatamento ou o lançamento de gases na atmosfera é de responsabilidade somente nas indústrias e dos que possuem o grande capital é se ausentar se uma estrutura que chamamos comum-unidade.

Afinal, quem compra os produtos que são fabricados pelo grande capital? Quem utiliza a energia produzida à custa de uma grande emissão de gás carbônico na atmosfera? A indústria só cresce de forma insustentável pelo fato de ainda haver pessoas que também consomem de forma irrefletida.

São Paulo aponta a saída para um mundo que ainda não reflete: “Vivei como filhos da luz” (Ef 5, 8). Somente nós temos a capacidade de superar os problemas por meio de uma reflexão sobre ele. Um obstáculo existe para ser superado por meio da inteligência e força humana.

Aprendamos a ver em cada limitação algo invisível: a possibilidade de superação. Pensar somente o problema não é o suficiente para atravessá-lo é preciso uma tomada de posição. Mesmo que se exija desgaste físico, intelectual ou espiritual, a resolução de todo conflito é sempre melhor do que a estagnação de uma reflexão sem prática.

Sejamos como Maria, luz para o mundo. Diante das realidades confusas que enfrentava, ela refletia sempre em seu coração. Aquela mulher só conseguiu dar à luz àquele que foi Luz do mundo por que sabia refletir, iluminando o que estava obscuro em sua vida. Maria soube ser, com isso, verdadeira e plena portadora da luz.

Vejamos o que está invisível diante de todo obstáculo. Sejamos, com nossa inteligência e força, luzes para o que ainda está obscuro aos olhos do mundo. Discutir a complexidade das pedras que surgem em nossos caminhos não faz sentido algum se não for para retirá-la de nossa frente, escalá-la ou apenas contorná-la, prosseguindo o nosso caminho rumo àquele que diz: “Eu sou a luz do mundo” (Jo 9, 5).

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