quinta-feira, 28 de abril de 2011

“Eis o homem”

Em um mundo de facilidades, da rapidez, do mais fácil e, portanto, do mais cômodo, do mais prazeroso, a figura do sofrimento do Cristo apresenta a proposta de um novo homem, o homem desejado por Deus.

Entretanto, esse homem não nos agrada. Qualquer imagem de sacrifício, de dor, angustia, sofrimento é, para nós, motivo de repúdio. Quando, porém, negamos essas realidades, estamos negando a nossa própria realidade humana, sempre propensa para o mal, para o pecado e para a corrupção.

Sim, estamos cercados pelo pecado, a responsabilidade pelos nossos erros está em nós e precisamos urgentemente de uma salvação. Precisamos de alguém que corrija os nossos erros e o nosso modo de agir, que sempre pende para o pecado.

Deus, em sua perfeita justiça, viu que o homem precisava ser condenado pelos seus pecados, os nossos erros não podiam passar sem ser percebidos por ele. Por outro lado, nosso Pai, nos amava de tal maneira que não queria acabar de uma vez com a humanidade. Nesse conflito, entre a justiça da condenação e o amor da salvação qual seria a saída?

Jesus Cristo, como a Palavra de Deus, traz, em si, esse equilíbrio e resposta. Ele assumiu a nossa humanidade, ele foi homem como nós. Assumindo a nossa humanidade ele passa a ser o Cordeiro de Deus, aquele que iria servir de sacrifício pelos homens. Ele morreu pelos nossos pecados.

O profeta Isaías, no antigo testamento, já apontava a realidade desse Cordeiro: “A verdade é que ele tomava sobre si nossas enfermidades e sofria, ele mesmo, nossas dores; e nós pensávamos que fosse um chagado, golpeado por Deus e humilhado!” (Is 53, 4). Os nossos erros precisavam ser corrigidos e eles o foram, em Cristo, Jesus.

Deus nos salva, por meio de Cristo, não somente porque morre por nós, mas também porque durante toda a sua vida na terra ele foi esse perfeito sacerdote. Ele é o perfeito mediador entre Deus e os homens. E assim como o advogado para fazer uma boa defesa precisa conhecer bem o seu cliente o bom mediador é aquele que conhece os que ele protege.

O Filho de Deus, nos conhece plenamente porque ele foi homem como nós, ele experimentou a fraqueza humana, as nossas limitações, as realidades difíceis que passamos. Ele conhece as nossas dores, angústias e sofrimento, ele foi humano como nós. É nesse mesmo sentido que podemos dizer com São Paulo: “[...] temos um sumo sacerdote capaz de se compadecer de nossas fraquezas, pois ele mesmo foi provado em tudo como nós, com exceção do pecado”(Hb 4, 15).

Deus, por meio de Cristo, sabe que estamos cercados de dificuldades, de problemas em casa, como nossos familiares, vizinhos, no trabalho e até mesmo em nossas comunidades cristãs. Ele conhece cada conflito humano, cada contradição, por íntima que seja, ele foi humano como nós.

E nós? O que podemos fazer diante de tão grande mistério? Mistério esse de um Deus que ama os que ele gerou até o ponto de morrer pelos seus? O que podemos dar em troca para aquele que nos deu a própria vida e diante do erro, nos deu a possibilidade de perdão? Nós, só podemos dar uma coisa ao Deus da vida: a nossa própria vida.

Nós precisamos ver Cristo e doar para ele a nossa existência. Onde, porém, podemos encontrá-lo? Vamos encontrá-lo, primeiramente, na Santa Eucaristia que é celebrada todos os dias em muitos lugares do mundo, todos os domingos em muitas comunidades. Esse alimento que nós tomamos todas as vezes que estamos em comunhão com Deus por meio da Igreja nos fortalece a ser como Cristo, aprendemos a ser pão.

A proposta da Eucaristia não se resume um mero ícone da cultura de nossa fé. O Pão da Vida que tomamos nos ensina a sermos Pão. A Eucaristia nos lança para que nós também sejamos alimento para outras pessoas, entregando a nossa vida para que os outros também ganhem uma nova vida.

Aqui é que surge nossa maior dificuldade. Nós podemos nos emocionar com o sofrimento de Cristo, nós podemos participar do sacramento da Eucaristia, mas temos muita dificuldade de aprender com essas realidades.

Precisamos buscar Cristo não como uma realidade fora de nossas vidas. Precisamos fazer Cristo nascer em nossas vidas. Mas, como isso pode ser feito? Como podemos deixar que o seu espírito esteja em plena comunhão com o nosso? Como ser um novo Cristo?

É preciso que nós comecemos por abraçar a humanidade que nos envolve. Nossa vida está cercada de dores e alegrias, sofrimentos e prazeres, altos e baixos, e essas realidades são partes integrantes de nossa existência. Não podemos negar nenhum momento desses, mas devemos aprender a retirar, de cada uma dessas fases, alguma coisa para o nosso crescimento. A dor, assim como a alegria, o sofrimento, assim como o prazer e os momentos de dificuldades são grandes oportunidades para que nós possamos crescer.

Pilatos, ao apresentar Jesus, flagelado, coberto de sangue, dor e rejeição diz para todos: “Eis o homem” (Jo 19, 5). Mesmo sem saber ele fazia, naquele momento a vontade de Deus Pai, apresentando, a todos nós a imagem do que é ser humano. Cristo, abraçando as dores de sua e de nossa humanidade aprendeu – e com certeza também ensina a mim e a você – a ser mais humano.

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