quinta-feira, 28 de abril de 2011

O caminho da vida


É impressionante o poder que tem a economia de transformar todas as coisas em mercadoria. Na Semana Santa nos é apresentado o centro de nossa fé. De modo mais intenso, vemos o mistério da paixão, morte e ressurreição de Cristo. Todas as ações que cercam esse momento devem ser utilizadas para confirmar a nossa vontade de nos conformar ao caminho da Cruz.

Quanto custa um quilo de peixe? Por quanto podemos comprar, em média, um ovo de páscoa? Olhemos o supermercado, vejamos a mídia, passeemos em um shopping... Se acompanhamos o ritmo do que nos é pedido, podemos fazer qualquer caminho, menos o de Cristo.

Cristo decepcionou muitos homens do seu tempo quando chegou à Jerusalém montado em um jumento. Sim, ele vem para lutar em um combate contra o maior dos inimigos humanos: a morte. Nós também não reconhecemos o Cristo que nos ensina que os inimigos não são vencidos pela força, mas pela caridade, entrega essa que se materializa primeiro com a doação de nossa própria vida.

Nós também nos decepcionamos e acabamos por nos distanciar de Jesus e seu caminho quando não reconhecemos que a proposta da Cruz é via de salvação. É mais fácil compreender que o fenômeno histórico da crucificação do Enviado de Deus tenha nos salvado de uma vez por todas do que aquela postura foi um grito para o mundo...

Como isso ocorre?

“Tomai e comei, isto é o meu corpo... Bebei dele todos, pois isto é o meu sangue” (Mt 26, 26-28)

De fato contemplar tal mistério é mais fácil do que vivê-lo. Ao nos entregar o pão e o vinho na ceia Ele prefigura o corpo e o sangue que serão doados para a geração de uma vida nova no alto de uma cruz.

Nós tomamos o corpo de Jesus como alimento e o seu sangue como verdadeira bebida não só quando deixamos de participar da missa, mas principalmente quando desconhecemos que nós também devemos seguir o caminho de doação, morte e vida e plenitude apontado pelo sacramento da Eucaristia.

Viver a vida do mais fácil, mais cômodo, do mais saboroso ou que exige menos trabalho é não reconhecer o Cristo que se faz presente em todo sacrifício de vida. A “vida” que decorre desse sacrifício não é algo extraordinário, além de nosso mundo, mas uma existência plena de sentido.

Por que tudo isso?

“De fato, este era o Filho de Deus” (Mt 27, 54)

Quando contemplamos o mistério de um homem que entregou toda a sua vida para que os outros fossem felizes e ao vê-lo, sem nenhum motivo, morto e pregado numa cruz, nossa postura só deve ser de reconhecimento. Na verdade, isto é a Palavra de Deus, isto é a Sua Vontade, este é o Verbo Divino.

Fomos criados por um princípio ordenador, seguimos um caminho que nos faz evoluir para a Vida em plenitude. Do mesmo modo, assumir essa proposta é abraçar a luta por uma vida em plenitude.

De fato, esse também é o nosso caminho. Saber viver na experiência da entrega de nossa existência a um ideal de vida plena deve nos preencher, deve nos fazer felizes. Essa experiência de doação não somente nos faz seguidores de Jesus, mas nos molda ao próprio Filho de Deus.

Para que tudo isso?

“Ele não está aqui” (Mt 28, 6)

Aquele que entrega sua vida para gerar uma nova vida destrói a lógica do mundo que quantifica as coisas e as pessoas. É superado um mundo de corrupção, que degrada os homens e as relações para ser construída uma existência plena. O indivíduo deixa de ser uma máquina, com prazo de validade, funções e inteligência determinadas.

O corpo de Cristo não mais se corrompe dentro de uma estrutura de mundo materialista: ele ressuscita. Ele chega ao ápice da caminhada humana, sua morte gerou vida. Quando olhamos esse mistério de entrega é impossível dizer que isso foi um ato de um estrategista político, de um religioso fanático ou de um indivíduo insano. É projeto de Deus.

Cristo, de fato, não está mais aqui. Ele não sofre mais a corrupção do mundo, ele permanece vivo em todo aquele que doa sua vida para que outras pessoas tenham vida. Ao olhamos para o túmulo vazio temos só uma certeza: Ele não era como os outros homens.

Que o mistério dessa semana nos faça não somente memorizar ou celebrar o extraordinário fato do enviado de Deus, o Salvador dos homens. Que o caminho de Cristo seja o nosso: na entrega de nosso corpo e do nosso sangue como alimento para outras pessoas, no sofrimento que nos lapida e nos conforma à Palavra de Deus, na morte para um mundo que corrompe as coisas, as pessoas e suas relações.

O fim desse caminhar é a passagem de uma estrutura de morte para uma existência cheia de vida, de sentido, de ressurreição.

FAÇAMOS VERDADEIRA ESSA PÁSCOA!

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