sexta-feira, 1 de abril de 2011

Palavra que gera vida: “Escutai-o”

O que acontece conosco quando olhamos fixamente para um objeto luminoso? Se conseguirmos passar um bom tempo olhando sem nenhuma proteção para o sol, o que nos acontece? Temos necessidade de ficarmos olhando permanentemente para uma luz? Na verdade, qual a sua função?

Nós vivemos em uma estrutura social, econômico, educacional e até religiosa que, muitas vezes, troca os meios pelos fins. Gostamos de trocar a felicidade em si pelos instrumentos que poderiam construí-la. Deixamos a possibilidade de edificação de nossos projetos pelas imagens e sonhos que deles fazemos. Queremos um mundo diferente, mas esquecemos de construí-lo.

Os discípulos, quando olharam para o Cristo transfigurado, ficaram fascinados com aquela imagem. O rosto do homem que Deus Pai tinha projetado era exatamente aquele: um rosto brilhante com roupas puras, ambos como luzes (cf. Mt 17, 2). O homem também é chamado a assumir essa figura: Ser puro, livre de qualquer mancha, perturbação, maldade ou maledicência.

Entretanto, aquela luz estava sendo irradiada não somente para ser vista, contemplada permanentemente. É o próprio Deus quem ensina o seu valor: “Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo o meu agrado. Escutai-o” (Mt 17, 5). Aquela luz fora criada e lançada no meio dos homens para iluminar, para clarear o mundo ao nosso redor, para mostrar o caminho.

É nesse exato momento em que o “calo aperta”. Afirmamos gostar da verdade sobre os fatos, queremos saber a realidade dos conflitos que estão ao nosso redor, evitamos a mentira e tudo àquilo que obscurece a nossa visão. Porém, quando essa nova compreensão cobra de nós uma mudança de postura, de concepções de mundo e de atitudes, começamos a baixar a cabeça, ficamos realmente com medo e não sabemos o que fazer. A luz começa a nos cegar.

“Escutai-o” é a ordem de Deus. E escutar significa não somente decodificar a mensagem, mas converter a nossa postura a partir do momento em que essa palavra se torna vida dentro de nós.

Porém, essa “geração” da palavra que foi pronunciada implica luta e esforço. Tornar essa palavra, efetivamente, carne, ou seja, vida objetiva é o caminho daquele que a ouve, a aceita e se sacrifica para que ela esteja presente no meio dos homens. São Paulo compreendeu bem esse sentido quando convoca Timóteo em sua segunda carta: “sofre comigo pelo evangelho” (2 Tm 1, 8b). Saibamos tornar essa boa notícia vida, mesmo que isso nos doa e a nossa própria vida entre em perigo no meio dos homens

Ouvir essa Palavra e contemplá-la pode até ser fácil, mas concretizá-la e torná-la viva em meio a uma geração de muitas palavras é o caminho que devemos trilhar, à luz da Palavra mais viva que conhecemos: Jesus Cristo. E se Cristo é Palavra pronunciada por Deus, feita carne e transfigurada em luz é porque, em sua vida, ele está a nos ensinar o caminho por meio de seus próprios passos. O caminho construído, trilhado e iluminado pelo Senhor aponta-nos para a Verdade que nos dá Vida, e vida feliz.

Nesse caminho, aprendamos com Maria a não temer essa Palavra. Ela soube gerar a Palavra de Deus quando soube ser serva, doando-se ao mistério de salvação e entrega a serviço do outro, mesmo à custa de perseguições e dores. Ela ouviu, aceitou e gerou o Verbo de Deus, por isso tem autoridade suficiente para nos dizer: “Fazei tudo o que Ele vos disser”.

E ao dizer tais palavras a jovem de Nazaré se conformava Àquele que constantemente também nos diz: “Escutai-o”.

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