terça-feira, 17 de agosto de 2010

Ação necessária


O homem moderno é marcado pela técnica. A centralidade da razão como fonte de todas as ações sociais e políticas em nossa sociedade faz com que a busca progressiva de instrumentos que facilitam a relação entre o homem e mundo se dê de forma cada vez mais eficiente. Essas características vão aos poucos permeando até mesmo as relações humanas: tudo passa a ser visto aos olhos de uma razão que torna tudo um instrumento, objeto de uso e manipulação do mercado financeiro.
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Max Weber (1864-1920), filósofo e sociólogo alemão, denomina essa realidade como “burocratização do mundo da vida”. Ou seja, a economia passa a permear tanto a realidade social que torna o próprio homem e suas relações como fatores integrantes desse processo econômico. Todas as interações ganham um cunho econômico e financeiro transformando grande parte das esferas sociais em burocracias, ou seja, relações objetivas.
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Essa burocratização do mundo faz com que as próprias pessoas também atuem em suas comunidades de forma objetiva, sempre com vista na eficiência, objetividade e no aperfeiçoamento de suas ações. O mundo passa a ser permeando por um fazer que perde, aos poucos, seu sentido de ser. As pessoas trabalham para acumular bens que darão a ela um bem estar. Tal satisfação, porém, tem em vista somente a geração de forças para um novo trabalho, uma nova prática profissional de acúmulo permanente.
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O próprio homem, aos poucos, vai se tornando escravo de sua própria técnica, de sua própria prática racional que instrumentaliza o mundo e a vida. Mas ele perde a si mesmo como agente de modificação de uma comunidade que é feita por homens e não por máquinas. Valores morais que fortalecem as relações sociais vão perdendo lugar em uma estrutura que tudo quer objetivar, ou seja, tornar objeto de acúmulo.
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Maria, irmã de Marta, é o exemplo de mulher que não deixa se levar por uma prática que toma conta da vida humana. Ela sabe que o que é central em sua vida é ter a Palavra de Deus como centro de todas as suas atividades, daí a confirmação de Cristo: “Maria escolheu a melhor parte” (Lc 10, 42). A questão não é, portanto, a aceitação de uma opção integral, no caso o está próximo de Jesus ouvindo a sua Palavra, e a negação de qualquer participação comunitária.
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Maria escolheu a melhor parte porque essa era a mais necessária (cf. Lc 10, 42), a opção fundamental que deveria acompanhá-la em suas ações futuras. Marta, mesmo desenvolvendo atividades positivas, estava esquecendo a principal atitude caritativa, que é o acolhimento da pessoa do outro que vem ao nosso encontro. Pois mais que estivesse preparando toda a casa para a estadia de Jesus, ela esquecia o sentido de tudo aquilo, de que estava trabalhando para um acolhimento. Ela estava fazendo uma troca exclusiva entre os fins, que seria a acolhida do outro, pelos meios, desenvolvidos nos seus diversos afazeres domésticos.
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A “melhor parte” expressa por Jesus implicava a aceitação de uma posição primeira que nos leva a ouvir a Palavra de Deus antes de qualquer postura, sabendo tomá-la como luz para um caminho que pode ser trilhado de formas diversas. A verdadeira postura cristã é aquela que age conforme um ideal de vida, um sentido que é segurado por meio de um norte que tem na escuta da voz do Senhor seu primeiro motivo.
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A Virgem Maria é também aquela que soube ouvir primeiro a proposta que o Senhor tinha para sua vida. A abertura conseqüente que ela assumiu foi o primeiro passo para que o Filho do Homem viesse a se tornar pleno em nossa humanidade. Que por esses exemplos, possamos estar sempre atentos a ouvir primeiro a voz do Senhor que fala constantemente na nossa existência e saber escolher o caminho que mais nos aproxima da felicidade e salvação.

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