terça-feira, 17 de agosto de 2010

Família, comum unidade, comum doação


O recente caso do crime cometido pelo goleiro Bruno contra a sua namorada, seguido pelo fim trágico que ele deu ao corpo daquela mulher, assim como as discussões sobre a desburocratização no processo de divórcio apontam para uma estrutura familiar que se vê em xeque. Não podemos tratar tais casos como fatos isolados que merecem reflexões distintas, pois ambos são produtos de um modo de relacionar-se que se fundamenta em uma troca material de favores.

Em uma cultura que valoriza o homem pelo que ele pode oferecer de objetivo para a comunidade, as relações sociais passam a ser permeadas também por essa “troca de favores”. O casamento, como uma instituição que manifesta mais um modo humano de relacionar-se, não foge a essa influência.

A justa procura por um divórcio que seja “instantâneo” é reflexo de um conflito que é mais amplo e complexo do que se imagina. Os casamentos estão se tornando cada vez mais instáveis. Tal inconstância é produto de uma falta de clareza e planejamento de vida quando se refere à opção por uma vida comunitária familiar.

A busca de uma união que se fundamenta somente na troca de bens, na utilização do parceiro como meio para o próprio bem estar, é o motivo fundamental para a descoberta de que a união conjugal não se sustenta por essa troca de bens que são perecíveis. A instantaneidade de uma separação fomentaria somente a busca de uma nova relação que desse satisfação à pessoa, mas que a levaria a mesma conclusão: a beleza, ao prazer ou a riqueza são passageiras.

O assassinato cometido pelo goleiro foi um dos vários conflitos que surgiram diante de um tipo de relação mal planejada, levada somente por interesses imediatos. A necessária responsabilidade mútua, que é fator indispensável na relação conjugal, foi negada perante uma busca de felicidade individual e não partilhada.

A imagem evangélica de um Deus que é Pai, e por isso cuida dos seus filhos, e lhes dá o que é melhor nos lança para a proposta de construção de uma família cristã. Os pais, como os primeiros a construírem tal comunidade, são responsáveis por uma disponibilidade que faz com que o bem do outro venha antes do seu próprio.

À semelhança de Deus, que dá o melhor de si, que é seu próprio Filho, Jesus Cristo, para a salvação dos homens, a família que quer seguir essa mesma proposta de felicidade deve também ter a doação como primeiro movimento dessa busca. Pais que deixam de lado muitas de suas opções para a educação de seus filhos bem como filhos que se deixam ser modelados pelos pais ainda são vias para uma comunidade menos materialista e individualista e mais humana.

A festa de Sant’Ana é o momento para refletir sobre o valor de uma família. Ao olhar para imagem daquela que foi a avó do Salvador, não devemos ficar encantados somente com sua beleza e o seu valor simbólico ou histórico, mas devemos ser capazes de ver a grandeza de ensinamento que ela nos traz. Mais do que uma imagem, ela nos educa para ver a família como berço de construção de homens e mulheres firmes na fé e na opção pela vida.

Maria é exemplo dessa proposta. Ao ser educada no colo de sua mãe sobre os caminhos deixados por Deus ela se abre a esse caminho e participa diretamente dos planos de salvação da humanidade. Nossa Senhora é fruto de uma estrutura familiar que estava longe de querer apenas uma satisfação individual, mas sim, dedicada à entrega pessoal de cada vida para os planos de construção de uma sociedade mais fraterna.

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