terça-feira, 17 de agosto de 2010

Livres para servir


Os diversos conflitos enfrentados pela sociedade atual, desde os familiares, passando pelo campo político, bioético, chegando à própria autocompreensão do homem, ou seja, pelo modo como ele se vê em sua comunidade, sempre perpassa pelo conceito de liberdade. Esse que geralmente é associada ao de autonomia (autos = própria, eu; nomos = lei), significando a atitude do homem de ter dentro de si a compreensão da lei, é compreendido como o direito do homem de agir conforme a sua própria inteligência.

Mas será mesmo que podemos confundir o conceito de liberdade humana com o ato de se fazer o que se quer, conforme os nossos próprios desejos? Essa atitude poderia ser afirmativa até o momento em que nos compreendemos como seres com os mesmos desejos. Porém, como sabemos que a realidade não é bem assim, devemos estar atentos ao momento em que nossos pensamentos e atitudes livres entram em choque com os pensamentos e ações dos nossos irmãos.

Diante do conceito moderno de liberdade está a proposta evangélica de uma ação livre fundada na doação da própria vida. O Apóstolo é bem claro ao afirmar que a nossa liberdade não é para fazer o que quisermos, mas para servir (cf. Gl 5, 13). Isso, para muitos, parece claro, mas de fato não é. Temos que ser livres para que possamos utilizar dessa liberdade para um serviço também livre, de doação integral de nossa vida para o bem do outro.

Somos escravos de tudo aquilo que nos prende e o pecado é a maior das prisões por que nos aprisiona e nos impede de viver a nossa liberdade de filhos de Deus. Pensamentos, atividades ou pessoas que nos impedem de viver o serviço de construção do Reino de Deus (cf. Lc 9, 58-62) também nos fazem perder uma liberdade integral.

Essa liberdade, entretanto, não se confunde com um individualismo ou isolamento por parte daquele que se diz livre, isso seria um aprisionamento em si mesmo. A autêntica autonomia de vida proporciona ao homem a possibilidade de ele caminhar por muitos espaços de ação e serviço, de construir o Reino de Deus em qualquer ambiente que esteja, tendo o mínimo de preocupações que impeçam a realização daqueles.

Crimes, homicídios, corrupções, desvios morais são também conseqüências lógicas de uma opção livre que o homem faz quando não ouve a voz do verdadeiro Caminho. O próprio Jesus não castiga quem o rejeita (cf. Lc 9, 53-56), a dor que o homem venha a sentir ao estar distante de Deus é apenas o resultado de seu pecado, é o produto da má utilização de sua liberdade para a satisfação de seus próprios pensamentos.

A primeira atitude daquele que quer ser realmente livre é renunciar a tudo o que esteja prendendo-o, não com pensamentos “positivos”, mas sabendo definir metas concretas de ação para essa libertação. A primeira das correntes a ser quebradas são as nossas próprias vontades e os nossos pensamentos, pois eles são sempre os primeiros a nos aprisionar. Eles devem ser postos de lado em relação àquela Palavra Libertadora dada em Jesus Cristo.

Para que essa atitude realmente tenha frutos, devemos ainda estar atentos aos ensinamentos que o Espírito de Deus tem a nos dar por meio dos acontecimentos e pessoas que surgem em nossas caminhadas. Somente na abertura integral de nossas vidas à ação modeladora do Espírito é que podemos nos tornar verdadeira e efetivamente livres para o serviço.
Maria é aquela que soube entregar sua vida ao mistério de Deus, deixando-se ser modelada em função da edificação do Reino por Ele prometido. Ela soube dar um livre sim e, por ele, a Palavra de Deus veio até nós, não ficando presa ao que poderiam pensar ou ao que poderiam fazer com ela. Maria apenas confiou. Que seu exemplo possa nos dar forças para dar um contínuo e livre sim a Deus, sabendo entregar nossas vidas ao Seu projeto de santificação da humanidade e de sua libertação integral.

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