terça-feira, 17 de agosto de 2010

Ricos para Deus


Se Deus pedisse contas de nossa vida ainda hoje, o que apresentaríamos a Ele? Se nossa vida tivesse um fim, o que deixaríamos de exemplo para aqueles que nos cercam? O que faria com que nós permanecêssemos na memória dos nossos conhecidos? Quais ensinamentos e testemunhos estaríamos deixando para a comunidade em que vivemos?

A festa de Sant’Ana da cidade de Caicó, assim como tantas outras grandes festas de nossa cultura é o momento em que nós devemos voltar os nossos olhos para o sentido de nossas práticas e posturas. É o momento em que as famílias se encontram, renovamos as nossas raízes culturais e históricas e damos o sentido de nossa fé. Mas é o momento onde alguns fatores de uma cultura consumista e exterior também podem se revelar.

A proporção entre os que participam dos eventos religiosos e todos os outros que vão para os encontros somente sociais é grande em relação a esses. Isso revela a postura de que estamos mais interessados em mostrar o que temos e somos em detrimento do que realmente somos ou possuímos.

A “perca de tempo” em estar diante de uma celebração litúrgica ou o sacrifício por qualquer outra ação religiosa ou simplesmente humana é facilmente trocada por um momento de descanso ou lazer com o que mais gostamos fazer ou “merecemos” diante de um mundo de tantos trabalhos e esforços. Silenciar em um período de nosso dia ou repensar os nossos valores tornou-se uma ação cada vez mais complexa em uma cultura como a nossa.

A mentalidade de um acúmulo irrefletido ou de uma técnica sem limites faz com que o homem se torne escravo de suas próprias ações, não conseguindo nem mesmo refletir sobre o sentido de suas práticas. A riqueza ou os bens que ela proporciona passa a ser buscada como um fim em si mesmo, sem um questionamento mais aprofundado sobre o seu valor para o homem e a sua comunidade.

É o próprio Verbo de Deus, feito homem, quem nos adverte: “... mesmo que alguém tenha muitas coisas, a sua vida não depende de seus bens” (Lc 12, 15). As posses materiais, motivadas por uma estabilidade econômico-financeira, devem fazer com que o homem tenha uma vida com dignidade, junto com os que estão próximos dele. Feliz e em paz, ele pode ser reflexo do desejo de Deus de mostrar-se através de um homem plenamente realizado.

Entretanto, a vida do homem não depende de seus bens pelo fato de que ele não é só matéria, mas espírito, emoção, razão e trabalho, indo além do meramente físico. Prova disso é o próprio mistério da ressurreição de Jesus que fez com que ele fosse sempre lembrado para sempre a partir do momento em que se olhou para todas as suas ações e seus ensinamentos e comprovaram que ele estava vivo. Os discípulos de Emaús também abriram seus olhos para o fato de que a morte não tinha acabado com a cruz, mas que os ensinamentos de Jesus deixaram provas concretas de sua presença enquanto as suas ações fossem repetidas.

A Maria é o exemplo de um serviço e uma entrega a Deus que se constituiu de forma gratuita. Qualquer riqueza que estivesse a sua frente era considerada um nada diante dos bens que Deus daria por meio daquele sim livre, não só a ela, mas a toda humanidade. Todo o culto que prestamos a ela se reveste de admiração por uma riqueza que foi construída sobre a obediência, pobreza e simples dedicação ao mistério de geração do Filho do Homem.

Que nós também possamos nos preocupar diante de uma riqueza material que é colocada acima da própria pessoa humana. O homem, como plenitude da criação, deve ser sempre o centro de todas as ações humanas, a maior riqueza social e o motivo de nossas ações na busca da glorificação de uma humanidade sempre atenta à construção dos bens de Deus.

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