terça-feira, 17 de agosto de 2010

Educar para a vida



Educar nunca foi uma missão fácil. Fazer com que o outro compreenda a estrutura social que o cerca não é uma atividade simplesmente técnica a ser realizada por um profissional do ensino. Isso acontece porque não se “ensina” a viver.

A palavra ensinar lembra o “ensignar”, ou seja, marcar com signos, colocar marcas nas pessoas para que elas apreendam (“prendam em si”) um conhecimento externo. Porém a educação deve ir além dessa marcação ou “fôrmação” (“colocar numa fôrma”), pois deve mostrar ao indivíduo que o mundo que ele vai enfrentar é mais sério do que se imagina.

A recente polêmica acerca da violência infanto-juvenil realizada pelos pais abre espaço para uma ampla discussão: Os pais ainda podem continuar castigando seus filhos por meio das “palmadas”?

Esse tradicional modo de “exemplar” os filhos foi, aos poucos, sendo substituído com a contribuição da psicologia e da psicopedagoga. Há outros modos de mostrar aos educandos que a sociedade exige pessoas que sigam normas e limites morais. Técnicas de imposição de regras por meio da punição com privação de algum bem e repetição insistente desse castigo, são exemplos de que a violência pode ser substituída.

Mesmo assim, a palmada foi um modo, mesmo rústico e tradicional, que os nossos pais encontraram para mostrar que há limites para as nossas ações. É um símbolo a afirmar que a justiça presente no mundo pune os que erram, que a dor é uma conseqüência lógica do desvio da verdade e que, cedo ou tarde, ela sempre chega.

É certo que a permissão das “palmadas” realizada pelos pais já levou a muitos abusos. Mortes, traumas e a geração de mais violência familiar e social tendem a se multiplicar a partir do momento em que tais crianças são castigadas de modo absurdo. Mais do que um castigo ou um modo de exemplar, esse tipo de violência excessiva é reflexo de uma estrutura social que também é violenta, sem limites e valores que possam ser nortes para as suas ações.

A grande responsabilidade que é dada aos pais de educarem os seus filhos para a vida está dentro da proposta evangélica do servo que recebe a grande responsabilidade de guardar os bens do senhor (cf. Lc 12, 36ss). A grandeza na geração, cuidado e educação das crianças que é dada primeira e fundamentalmente à família é uma missão que requer mais do que técnica mas, um amor que é doação e esforço contínuo para querer o bem do outro.

Fazer com que o outro compreenda que a vida possui um conjunto de valores e normas a serem respeitados é um dos principais focos da educação, ao lado da participação crítica social e da construção de um mundo justo e fraterno.

Saber que a punição é a conseqüência necessária para os que optam por caminhos equivocados seria o sentido principal das “palmadas”. Entretanto, essa se transforma numa faca de dois gumes na medida em que se perde o controle dessa simbologia, do sentido desse “exemplar”, gerando uma violência que cresce gradativamente.

Que tenhamos o exemplo daquela que foi a maior educadora de todos os tempos. Maria é verdadeira mãe que soube ensinar ao seu filho que o caminho da vida feliz estava na obediência integral à vontade de Deus. Ela sabia da responsabilidade de gerar no seu ventre o Filho do Homem, aquele que, sendo verdadeiramente humano, foi verdadeiramente divino.

Devemos ver na mãe de Jesus o exemplo daquela que soube ensinar que a construção do homem estava em uma vida simples e modesta, organizada por uma ordem disciplinar da vida. Deixar de corrigir seria um risco que os pais correm em entregar ao mundo pessoas não preparadas para enfrentar as suas vicissitudes. Os reflexos de uma omissão familiar estão sendo enfrentados por todos nós que somos vítimas da violência, dos vícios e das múltiplas corrupções.

Aprendamos a ter esse temor (cf. Lc 12, 48) diante desse grande encargo que é educar para a vida e, mais ainda, tremer diante do homem que deve ser modelado à luz do Filho de Deus que soube aceitar a sua plena condição de criatura e por isso soube viver plenamente a sua existência.

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