terça-feira, 17 de agosto de 2010

Uma fé que perdoa




Em uma cultura de raciocínio no lógico, da lei da ação-reação, do “bateu-levou”, da punição correspondente ao delito, corremos o risco de perder o homem em sua integridade e complexidade, perdendo o valor que ele pode trazer para as relações sociais. Estamos arriscando em jogar a água suja, pelo risco da criança ir junto.

Ao “tachar” os outros como orgulhosos, corruptos, soberbos ou doentes, física ou psicologicamente, estamos inserindo-lhes em redomas de vidro, não deixando que eles se manifestem e demonstrem a sua complexidade, amplitude e possibilidade de ser sempre mais. Quando colocamos etiquetas nos homens, pensamos que já conhecemos seu espírito, achamos que uma de suas qualidades ou limitações pode dizer tudo sobre ele.

Cristo é aquele que vai além, exatamente porque é capaz de entrar no coração do homem sabendo ver também a sua história de vida. Ele sabe que ninguém pode ser completamente culpado pelos seus pecados, pois compreende que estamos envoltos em imperfeições. Porém, mesmo com tudo isso, o perdão que ele poderia mostrar era condicional, exigiria uma postura daquele que estava afastado.

A mulher pecadora foi além de seus limites quando chegou aos pés daquele que era o verdadeiro Santo. O pecado se encontra com a graça por meio de uma fé que deseja a superação, o fim de uma vida de erros e limitações. É no amor que as contradições se tocam e desenvolvem-se mutuamente. É no amor onde o perdão pode surgir verdadeiramente.

Foi por meio da livre entrega daquela mulher, na doação de sua vida à Jesus que suas limitações foram sendo contornadas. A vida de erros, dores e lágrimas passou a ser colocada aos pés daquele que entende que somos seres imperfeitos, mas que queremos a felicidade. Deus não quer nossos dons, habilidades ou boas ações, mas somente nosso esforço de busca pelo crescimento e superação.

É nesse sentido que o cristão não pode se deixar levar pelos discursos absolutistas da sociedade em querer solucionar os seus problemas apenas os afastando da sociedade, excluindo-os da integração social. Quando somos capazes de trazer aquele que erra para junto da comunidade e mostrar que ele tem uma dignidade que o torna tão homem quando qualquer outro, podemos fazer diferente, à imagem de nosso Senhor.

Jesus soube mostrar à mulher que ela era capaz de superar os próprios pecados quando abria sua vida ao outro por meio da caridade. Ela, como o fariseu, não deu parte de seu tempo ou de sua riqueza, mas o que tinha de melhor: sua vida. A mulher se humilhava diante da pessoa do outro entregando tudo o que tinha para que ele fosse honrado.

“Sua fé salvou você. Vá em paz!” (Lc 7, 50). Mais do que uma absolvição, Cristo mostrava a ela, assim como a todos os homens, que o perdão de nossos erros e a possibilidade de superá-los está na capacidade que temos de descentralizar nossas vidas e doá-la ao outro, de entregá-la em sacrifício para que o homem seja beneficiado com os meus dons.

Que esse testemunho seja luz para as nossas vidas, fazendo-nos deixar de buscar somente o que nos beneficia e nos faz bem para se lançar ao outro entregando a ele o que temos de melhor. Que o Espírito do Senhor nos dê foras para permanecer em um caminho de entrega livre ao mistério da pessoa humana, vendo nele reflexos da Perfeição.

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