terça-feira, 17 de agosto de 2010

A luta pela vida


O mundo moderno é caracterizado pelo desenvolvimento técnico-científico, por um progresso que coloca o homem diante das maiores descoberta, de instrumentos que facilitam a sua vida, de meios que geram economia de tempo e capital. Palavras como eficiência, eficácia, efetividade, objetividade e pragmatismo reinam numa cultura onde o aumento da riqueza pessoal e social ganham centralidade em qualquer ação.

O problema do desenvolvimento de uma mentalidade como essa está no surgimento na cultura do “mais fácil”, do mais cômodo, do menos doloroso e menos trabalhoso. Além de ser criada uma mentalidade humana estagnada, com a perda de esforços para a construção dos objetivos previstos pelos homens, é fortalecida a posição individualista, tão valorizada em uma sociedade que perde, aos poucos, os seus valores morais.

O homem passa a encerrar suas ações somente no que mais se identifica, no que gosta ou no que tem mais habilidade para atuar. O que é diferente, árduo, incongruente com sua personalidade passa logo a ser afastado de suas atividades. A atitude de Narciso é repetida: ele, nas palavras de Chico Buarque, “acha feio o que não é espelho”, distancia e nega tudo o que possa trazer sacrifício ou entrega.

Jesus, “o messias de Deus” (Lc 9, 20), mostra ao mundo que a grandeza do homem está em afirmar sua vida pelo que ela é de fato, caminhada rumo ao céu. Entretanto, essa caminhada que eleva o homem a um estágio superior à sua condição limitada não é fácil. É uma subida que exige esforço, pois nos coloca diante de nosso próprio peso e exige que deixemos para trás muitas coisas que nos pesa. Se isso não acontece, corremos o risco de parar no caminho ou, pior, cair, ferindo-se na distância de Deus.

Nessa subida, a cruz é o nosso maior peso, são as nossas limitações, nossos erros, dificuldades e o que realmente nos afasta de Deus. Também nessa subida, temos que deixar de lado muitas coisas, muitos de nossos desejos, sonhos, objetivos pessoais. Preconceitos, rancores, mágoas e individualismos que não são largados nesse caminho de ascensão, só serão mais um peso que carregaremos e no atrapalharão nessa elevação.

Cristo nos ensina a deixar de lado tudo isso que nos pesa, tomar nossa vida, carregá-la e entregá-la como doação livre ao seu projeto de verdadeira humanização e libertação do homem. Com nossas virtudes e habilidades teremos sucesso, mas um sucesso que é somente social, material, nada mais além disso.

Ao ir pelos caminhos mais fáceis, o homem corre o risco de ganhar uma vitória passageira. Nesse movimento, a própria existência passa a ser negada, pois será esquecido o fato de que ela é contingente, é associação de dor e prazer, vitórias e fracassos, subidas e descidas, em síntese: uma luta pela vida. E é o próprio Jesus quem nos questiona: “... que adianta o homem ganhar o mundo inteiro, se perde e destrói a si mesmo?” (Lc 9, 25).

Que nós possamos assumir uma postura missionária de forma integral, anunciando a pessoa de Jesus Cristo primeiramente com a nossa própria vida, seguindo o seu caminho rumo à cruz. Essa, que não se esgota no sacrifício de uma vida, mas na sua pela afirmação, é para os homens o caminho ordinário para a ressurreição.

Maria, como aquela que soube entregar sua vida à divina Providência, carregar o peso da responsabilidade de levar em seu seio a Palavra de Deus e do risco social de não ser compreendida, é aquela que nos ensina a ser verdadeiros testemunhos do grande mistério que é a luta pela afirmação da vida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário