domingo, 25 de março de 2012

A verdadeira morte


“Se o grão de trigo não morre, permanecerá só,
mas se morrer, produzirá muitos frutos” (Jo 12, 24)

A aparente glória prometida pelo mundo é sempre material e, como tal, passível de destruição. Riquezas, fama, reconhecimento, prazeres, honras vêm como algo que preenche a humanidade, dão vida a uma matéria sem sentido... Porém, todos esses bens podem ser roubados, substituídos, esquecidos, empobrecidos, ou seja, gerar nessa mesma matéria um espírito de morte, maior até do que o caos anterior.
Jesus, como filho enviado por Deus, revela uma lógica contrária à apresentada pelo mundo atual. “Se o grão não morre, permanecerá só” (Jo 12, 24). A morte, mais do que uma perda, é uma passagem de uma realidade para outra. Um passo adiante de nossa humanidade que vai além de sua matéria para algo superior. Caso contrário, permanecerá sempre o mesmo, sujeito à contínua corrupção material, corrupção dolorosa e eterna.
“... Mas se morrer, produzirá frutos”. Não somos uma matéria eterna, toda a existência humana perderia todo o seu sentido se o seu fim ultimo fosse a destruição plena. A morte que gera fruto é aquela que ultrapassa a dimensão material que entra no coração humano e o faz compreender que a vida não criada para ser “extraviada” ou “experimentada”, mas é projeto de mundo em ordem, que caminha para o Bem.
Jesus cumpre e revela a promessa de Deus Pai, não por algo externo, mas pelo seu próprio nome, pelo Verbo que ele mesmo pronunciou no templo. “Chegou a hora em que o filho do homem será glorificado” (Jo 12, 23). A promessa da cruz é a realização pela dessa morte que gera vida, morte que redime, purifica e santifica uma humanidade que estaria morta pelo seu pecado.
A grande glória do Pai revela-se no alto da Cruz, com o Filho de braços abertos, entregue para a nossa salvação. “Eu o glorifiquei e glorificarei novamente” (Jo 12, 28). Encarnando-se, Jesus revela o mistério da grandeza e da simplicidade de Deus, morrendo, o seu projeto de redenção de todo o homem que o buscasse.
“Quando eu for elevado da terra atrairei todos a mim” (Jo 12, 32). Sim, a Cruz, antes símbolo de morte ganha um novo sentido em Cristo. É no alto da cruz que ele entrega humilhado, na obediência e por amor, a sua vida. Como a semente, ele deixa que seu corpo seja quebrado, destruído, para que algo novo brote do seu centro. Dele, nasce a árvore da vida, árvore que perdemos com o nosso orgulho, mas que recuperamos pela dinâmica de sua morte.

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