quarta-feira, 16 de maio de 2012

O dom de si


“Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei” (Jo 15, 12)

Em suas últimas palavras, Jesus procura sintetizar toda a dinâmica de sua mensagem, busca resumir toda a riqueza de sua vida. Daí que surge o mandamento do amor. Esse não é só um belo discurso, uma frase que possa permanecer em nossas mentes, mas a fonte de todo o cristianismo. Um amor que é gratuito, que implica dom de si.
Vivemos em uma sociedade permeada pela compra e troca de relações humanas. Em tudo há um interesse, nas ações, um valor, na vida, um preço... O homem torna-se instrumento a ser comercializado, trocado, valorizado pelas suas habilidades. As relações humanas perdem a sua riqueza, o mistério do encontro de dois mundos, duas histórias, duas vidas.
Cristo fala a esse tipo de mundo, responde com a sua própria vida e mostra o verdadeiro mandamento, o verdadeiro caminho: “Amai-vos uns aos outros”.
Que significa esse amor? Primeiramente relação. Entrar em contato com um mundo diferente do meu, uma vida distante da minha, uma história que se cruza com a minha, portanto, uma relação com um outro “eu”. Esse contato deve ser permeado de uma verdadeira consciência de si. Se eu reconheço os meus defeitos, as minhas limitações, as minhas faltas, não posso me escandalizar nem esperar algo mais do outro...
Como amar um mundo diverso do meu, uma vida diferente da minha, caminhos diversos dos meus? Cristo responde: “... como eu vos amei”. O seu amor não era discurso, texto, ensinamento, mas vida: “Ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida pelos seus amigos” (Jo 15, 13). É no alto da cruz que ele revela a síntese de seu mandamento. É entregando a sua vida por aqueles que não mereciam que ele revela que esse movimento vai além de nossa compreensão, porque vem de Deus.
É dessa “divindade” que gera, protege e dá a vida, que participa o amor de mãe. Um amor que entrega-se, doa a própria vida, arriscando-a, para que o outro a tenha em plenitude. Um amor que não busca nada em troca, pelo contrário, gasta-se a si mesmo, na esperança que o outro apenas viva. Um amor que é dom de si, pois é movimento em direção a um outro que é e será sempre mistério, mundo que não pode ser esquadrinhado pela nossa razão.
Como responder a esse amor? Vivendo-o em plenitude, como resposta àquele que nos ama por primeiro. Caminhando ao encontro dessa fonte de vida e refletindo esse amor como um dom de si. Um movimento em direção ao outro, na entrega de nossa própria vida de forma gratuita, livre e despojada como Cristo, fonte de amor e vida, fez por nós.

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