“Como acontecerá isso
se eu não conheço homem?” (Lc 1, 34)
A pergunta de Maria se
faz a nossa. Olhamos para um mundo marcado pela limitação humana, ferido pela
falta de perspectiva em homens que possam trazer a paz à uma cultura marcada
pela dor. Diante de um homem cheio de feridas, defeitos e limitações podemos
nos questionar: Pode ainda haver salvação em uma humanidade habitada por homens
que preenchem a história de atos dolorosos?
Ao receber a visita do
Mensageiro de Deus, Maria se questiona. Diante da promessa de um Rei que daria
prosseguimento e plenitude ao reino de Davi, ela volta os olhos para uma história
e se fica confusa. Questiona-se diante de uma humanidade marcada pelo pecado,
pelas deficiências de tantos homens que, apesar de sua fé em Deus e em sua
promessa, quebram essa aliança.
De fato a promessa
feita em Davi está para ser cumprida naquela jovem que está prometida a José.
Mas é exatamente aqui onde todo esse projeto humano se transforma. A genealogia
que deveria passar por José para e abre-se ao mistério: “O Espírito Santo descerá sobre ti, e o poder do
Altíssimo te cobrirá com a sua sombra” (Lc 1, 35). Sim, a promessa se cumpre,
mas não por obra humana: O Rei esperado é Filho de Deus.
Surge aqui mais um ícone desse mistério de uma Virgem que gera e de um
Pai que, mesmo legítimo, não conhece a sua esposa. É daqui que surge o “Filho
do Altíssimo”. Deus é gerado no silêncio de uma família que atente a um projeto
que ultrapassa a realidade humana e se abre ao inexplicável. De fato, é Deus
que se faz homem, não o homem que faz Deus.
Maria obedece, ou seja, ouve e se curva diante da promessa, não porque a
entende, mas por que sabe que essa é Palavra de Deus. Ela olha para uma
história marcada por altos e baixos e consegue ver que a mão de Deus sempre
acompanha os homens, mesmo nos momentos mais confusos. Por isso, a sua prova de
fé: “Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,
38).
Sim, Maria não conhece nenhum homem que poderia dar à história essa
plenitude, pois só Deus dá ao mundo essa Palavra de Vida Eterna. Para que o
Verbo se fizesse Carne, era preciso que o homem se calasse. De fato, na
plenitude da história Deus fala, mostra-nos o projeto que ele tinha para nós:
Jesus Cristo. Em sua face, vemos o amor redentor de uma humanidade que, apesar
de suas feridas, olha para luz e continua sempre a buscá-la.
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